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coitadinhodocrocodilo



Quinta-feira, 18.04.13

Quem tem um curso, que se faça à vida!

Andar na rua, nos transportes, de ouvido e mente abertos, é a forma mais eficaz e fidedigna de auscultar o estado do país. Por todo o lado se ouvem conversas com vontades expressas de sair do país, com desilusões na voz de quem tem pena de ver o seu Portugal definhar à mercê da incompetência, ganância e falta de visão.

Ouvi um sermão de uma trabalhadora do Estado que se queixava de ser um número, de trabalhar muitas horas e de nós, corja de desempregados, custarmos muito dinheiro ao Estado. Acabámos por nos despedir quase aos abraços, mas não sem antes trocarmos uns valentes galhardetes.

Pedia informações sobre formação gratuita para pessoas na minha miserável condição. As opções são quase inexistentes. A licenciatura barra-me o acesso a quase tudo. Não posso frequentar cursos que quero porque tenho um canudo e nas outras fico em último, porque primeiro está sempre quem não tem habilitações. É justo. Ou não.

A conversa que começou muito mal, e meteu pelo meio o conselho de emigrar, acabou bem. Valeu o ar paternal e compreensivo quando percebeu o meu percurso anterior.  – “Aquilo lá também devia ser muito mau!”. À pala disso, deu-me umas dicas gratuitas e mais uns minutos de conversa do que o habitual. Não é todos os dias que aparecem pessoas a pedir formação em coisas estranhas, que não servem para nada.

Parafraseando a personagem principal do livro qua ando a ler: “O que fazer quando o “excesso” de inteligência e lucidez ameaça arruinar uma existência já de si atormentada?”

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por coitadinhodocrocodilo às 14:07

Quarta-feira, 17.04.13

Daqui a um ano...

Ando super contente por saber que duas amigas que vão sair do país. Uma definitivamente, a outra em missão humanitária. Vai e volta. Leva bens necessários e trará experiências e o coração cheio de amor. Que bom! Que bom é quando somos realmente úteis, quando não somos mais um, quando fazemos a diferença na vida de terceiros.

Pois é isso que quero para mim. Demorei quase seis meses a pôr a cabeça em ordem. Obriguei o meu cérebro a fazer ginástica e os dedinhos a correr a maratona na internet. Agora que o meu curriculum fez o pino, acho que é altura de começar a lutar. Vou com armas e armadura, cavalo e fanfarra atrás.

Daqui a um ano tenho que estar a fazer o que gosto num sítio que gosto. Porque daqui a um ano começa uma nova fase da nossa vida. Daqui a um ano encontramo-nos aqui para fazer o balanço.

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por coitadinhodocrocodilo às 23:03

Terça-feira, 16.04.13

Volta Bin!

Já não há Bin Laden para culpar. Volta a ser difícil arranjar um discurso coerente que acalme o povo mais ignorante do mundo. Explosões, brincadeirinha ou acto de terrorismo? Medo é do discurso de Obama, que garantiu que os culpados vão ser apanhados. Será difícil apanhar os verdadeiros tipos que puseram milhares de pessoas a fugir de uma das mais importantes maratonas do mundo. Os verdadeiros, claro, porque sabemos que, à falta de melhor, serão apanhados uns desgraçados quaisquer, haverá linchamento em praça pública e de novo o discurso nacionalista e do god bless toda a gente.

 A esta altura, as comunidades russas, árabes, judias, amish, afro, índia e latina andam em pulgas para saber quem é que o Mr. Sam vai culpar. Os Chineses? Não, agora são amiguinhos. Já sei: os coreanos! Não me parece… Esses tinham lançado um míssil que acabava com Boston. Os venezuelanos decidiram rebentar com Boston para comemorar a eleição do “filho” de Chávez? Não, só se a corrida fosse em Miami.

O Mr. Sam não aprende que a ameaça vem sempre de dentro. Inteligência na CIA, só se for artificial, e no FBI só se safam o Mulder e a Scully. Volta, Bin, alguém precisa de um bode respiratório!

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por coitadinhodocrocodilo às 09:42

Sábado, 13.04.13

37 com bolinha

Este é o ano da minha vida. O ano em que, primeira vez, usufrui de uma prestação social. O ano em que os meus pais apanharam o susto e o desgosto de ver a única filha desempregada, o ano em que o meu marido vem almoçar a casa e leva de sobremesa um beijo. O ano em que mais mimei os meus filhos. O ano em que me pus a pensar verdadeiramente na minha vida, desejos e vocação, como se o dinheiro não fosse problema. O ano em que senti o cheiro da liberdade, como se tivesse saído da prisão após anos atrás das grades. O ano em que a nossa jangada de pedra se afunda ou se salva.

Esta semana fui a uma formação, nas instalações da empresa que nos acompanha na reintegração – tal como a um ex-presidiário  – e contava um tal de João que quando foi a uma entrevista e lhe perguntaram a idade, escreveram 37 e assinalaram o número com uma bolinha. Indignou-se o João. Eu cá não. Tenho 37 anos, cheios de cabelos brancos, delicadamente escondidos, e muita motivação nos neurónios, para dar o salto que a minha vida precisa. Este ano é o ano dos meus 37 com bolinha. Quando chegar aos 38 dou o salto para o vazio e seja o que a minha vontade quiser e a minha sorte o permitir.

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por coitadinhodocrocodilo às 18:08

Sexta-feira, 12.04.13

A vingança dos profs

Sou formal e abertamente contra os trabalhos de casa. Acho que são uma forma muito subtil e irónica de os professores se vingarem dos pais. Porquê? Porque os vão buscar tarde, porque não aparecem nas reuniões de pais, porque não acompanham os filhos como é devido. Porque subestimamos esta classe essencial para a sociedade, muito dada a tentar que pais e filhos se superem diariamente.

Ando há uma semana de volta de um dragão construído com materiais recicláveis. Podia ter optado por um desenho em cartolina, mas achei que se era para brilhar que fosse em 3D. À grande! Portanto, quanto maior o projecto, maior a queda…

Nunca tive positiva em trabalhos manuais. Era o Aquiles do meu calcanhar. Todos concluíam uma casinha de madeira. Eu andava o ano todo para fazer a janela ou a porta. Pediam-me 10 trabalhos para poder subir a nota. A única nega a manchar o curriculum. Quem foi o diabo que decidiu que estas disciplinas deviam contar para nota?! Ninguém pode ter jeito para ginástica, matemática, química, inglês e trabalhos manuais, de igual forma, POIS NÃO?!?!

Desde que o meu filho está na escola, dou comigo a guardar rolos de papel higiénico ou a comprar tintas na loja do chinês, com um entusiasmo assustador. Estou aqui, estou a fazer workshops de patchwork. Bahh, antes beijar um defensor de TPCs!!!

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por coitadinhodocrocodilo às 10:16

Quarta-feira, 10.04.13

A vida desinspira-nos

A vida tem destas coisas. Abre janelas, fecha portões, entreabre portas. Quando está zangada connosco, permite-nos apenas espreitá-la pelo buraco de uma fechadura. E lá ficamos nós a olhar para a vida que queríamos, por um buraquinho minúsculo. A vida que nos escapou, por entre os dedos.

O voluntariado tem destas coisas. Conhecer histórias de vida muito mais desastrosas do que as nossas. Dar valor aos portões e às janelas, às frestas que nos dão correntes de ar.

R. ficou desempregada. Sorveu o subsídio até ao fim. Quando tudo parecia perdido, arranjou trabalho. E quando achou que a vida lhe sorria novamente, esta virou-lhe as costas com zombaria: R. não tinha dinheiro para ir trabalhar. Recusou o emprego.

Este é o desespero de quem se está a borrifar para o governo, para a troika e para o futuro do país. Às vezes, trabalhar não é só para quem quer. É para quem ainda pode.

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por coitadinhodocrocodilo às 17:47

Terça-feira, 09.04.13

Máquina de lavar o tempo

Ando a ver se consigo perceber onde o governo pretende que este rio de austeridade desague. Não sou versada em economia, mas acho que não é necessário para constatar que este caminho só nos leva para o meio de uma floresta densa e escura, onde os juros são gigantes e a fome é rainha.

Mais de metade dos nossos impostos vão direitinhos para pagar a tão falada dívida pública, quando deviam ser aplicados em hospitais, escolas, cultura, investigação científica. A mão de obra especializada foge do país, empurrada pelo desalento e a falta de futuro. Há mais desempregados e reformados do que população activa.

À minha volta, acumulam-se cantinas sociais, farmácias sociais e feiras sociais. Pessoas como eu e tu, que já comeram garopa e agora comem atum, que já andaram de Audi e agora andam a pé, que deram PSPs aos filhos e agora contam o dinheiro para ver se chega para um happy meal: refeição e brinquedo num só.

Ando curiosa para saber como estaremos daqui por 5 anos. Haverá medicamentos nas farmácias? Andaremos à porrada por uma palete de leite? Teremos ainda dinheiro para comer peixe? Teremos senhas para rações diárias? Transformaremos os jardins em hortas comunitárias? Para quando o regresso dos balneários públicos? Voltaremos a ter as mulheres em casa a cuidar dos filhos? Qual será a taxa de abandono escolar?

Queria ter uma máquina de lavar o tempo. Uma máquina que me permitisse lavar os governos dos últimos 20 anos a 60 graus, centrifugá-los a 800 rotações e pendurá-los no arame pelos tomates, sempre que tomassem uma decisão que não fosse pelo bem da RES PUBLICA.

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por coitadinhodocrocodilo às 12:47

Sábado, 06.04.13

Larguem a higiene!

Andávamos a roubar acima das nossas necessidades. Foi esta a conclusão a que cheguei. A comida é actualmente o segundo bem mais roubado em supermercados. Os bens relativos à higiene lideram há muito tempo. Antigamente, quando eramos todos ricos, com ares de pseudo-pobres, roubavam-se chocolates, bebidas, aparelhos e gilletes. Agora, roubamos para comer.

A comida passou a ser um luxo, sim, mas a higiene bate tudo. O gel de banho, o shampoo, a pasta de dentes, o papel higiénico, têm o IVA taxado a 23%. Portanto, lavar o cabelo, os dentes ou limpar o rabo é um luxo. Já beber coca-cola ou comer danoninhos faz parte do essencial do nosso dia-a-dia.

Comer queijo é mais barato do que comer fiambre. E o raio do porco que é taxado de diferentes maneiras, conforme se preferimos trincar a perna ou o lombo? Senão vejamos: pelo fiambre extra, da perna, pagamos 23%, mas se quisermos paio, que é da parte do lombo, já pagamos 13%.

Eu diria que as nossas possibilidades andam inversalmente proporcionais às nossas necessidades. Mandemos então às urtigas os artigos de higiene! Está feito: poupamos água, pele e um sem número de utensílios que não têm grande serventia. Há lá melhor do que um PH ao natural! Desodorizante? Não, espalhem suminho de limão. Gel de banho? Substituem por sabonete de glicerina. Shampoo? Nope. Gemada na carola. Dentes lavados? Esfreguem com a casca de uma banana. Tem carradas de potássio. Limpar o rabo? Toalhitas de bebé, têm 6% de IVA e são um 3 em 1: limpam, lavam e perfumam. E para quem tem filhos, ainda estimula a cena da partilha. Pêlos? Há uma coisa chamada pinça. Eu vi algumas pessoas a executar essa tarefa enquanto trabalhavam. É como ouvir rádio enquanto se faz o amor.

E pronto! Assim se poupa, assim se está na moda e assim se garante a sustentabilidade de uma casa, de um bairro, de uma freguesia, de um concelho, de um distrito, de um país. Quiçá, de um planeta.

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por coitadinhodocrocodilo às 22:08

Sexta-feira, 05.04.13

Ver Relvas por um canudo

Relvas diz que sai por vontade própria. Eu acredito. Eu também saí do meu emprego por vontade própria: foi pelo meu próprio pé e depois de assinar um contrato que se dizia de mútuo acordo, ou seja, saí porque quis, quando achei que já tinha dado tudo o que tinha para dar. Repito: acredito no Miguel.

Há quem fale em erro de casting. Também acredito. Afinal, a nomeação de um governo não é mais do que buscar e rebuscar nas agendas pessoais os contactos dos amigos e afilhados, compadres e compadrios. Junta-se uma pitada de marketing pessoal, reescrevem-se formações académicas, juntam-se mais umas notas saídas ao fim-de-semana, uns créditos, compram-se espaços de opinião em jornais afamados e sai um governo quentinho, pronto a servir ao Zé, que tomam por brando, distraído e a dar para o estúpido.

Este Miguel fez um curso sem meter os pés na universidade, com base num regime de equivalências inédito em Portugal, sem fazer um único exame escrito, apenas uma oral que debateu o seu próprio pensamento, com falta de comprovativos de notas e com uma admissão aceite fora do prazo.

O Zé não tem canudo. Mas tem a dignidade de dizer que aquilo que aprendeu foi mesmo resultado da frequência escolar e das chapadas da vida. E agora o Miguel sai pelo próprio pé, o mesmo que está ferido pelo tiro que levou. E não se tratou só um erro de casting. Relvas é um insulto diário e permanente à inteligência do Zé e revela o estado em que se encontra a política em Portugal: no corredor para a morte.

Como não me parece que alguém se preocupe com os insultos à inteligência do Zé, gostava de aproveitar para informar que vou tentar obter equivalências com base nos textos deste blog. Não me importo de estar uma hora a debater o meu próprio pensamento. É uma cena narcisista, mas eu aguento se isso me der um mestrado em História do Pensamento Evolutivo das ditas Balzaquianas no Século XXI. Também não me importo que as notas saiam ao fim-de-semana, ou não saiam de todo, desde que o diploma seja assinado ou rubricado por alguém com um QI médio de 100, com desvio-padrão de 20.

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por coitadinhodocrocodilo às 10:44

Quarta-feira, 03.04.13

Boa, Becka!

“Olá, o meu nome é Rebecka, tenho 29 anos e vivo na Suécia. Recebi, sem querer, muita atenção dos media após publicar uma foto de manequins suecos (…)”. Este é o início do texto que dá o mote ao site da blogger sueca Rebecka Silvekroon (http://www.swedishmannequins.com). Ela resolveu fotografar uma manequim mais gorda do que o normal e colocá-la no seu blog becka.nu. Em dias, o assunto viajou da Suécia até à Austrália. Acharam que a ideia era da H&M. Não, mas deviam aproveitá-la. Davam o sucesso merecido à ideia da Becka e o exemplo aos restantes gigantes dos trapos low-cost.

A problemática dos manequins esqueléticos está a par com a problemática das verdadeiras modelos esqueléticas, as que dizem que comem de tudo e não engordam. Eu também, como de tudo e não engordo: acumulo adiposidades, que é diferente. É muito mais fino.

Faz-me lembrar as pessoas que dizem que se deve gostar de tudo. Nunca conheci ninguém que gostasse de todo o tipo de comida. E normalmente, os que dizem isso são as pessoas que não comem coisas tão banais como frango, pepino ou melão. Em suma, é um dos muitos exemplos de hipocrisia: mentir para ficar bem na fotografia.

Quanto aos manequins, acho uma óptima ideia ver nas montras uma boneca gorda como eu a usar roupa sexy, que normalmente não compraria, precisamente por estar espetada num manequim skinny, em pose de adolescente enjoada (adolescente enjoada parece-me um pleonasmo…). Inveja? Não, fofos, sou gorda, feliz, inteligente e desempregada. É possível que o marido conseguisse na mesma ser feliz se eu tivesse menos adiposidades, mas na realidade o que não combina numa mesma pessoa é ser gorda, feliz e desempregada. Temos que mudar aqui alguma coisa. Guess what?..

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por coitadinhodocrocodilo às 11:36



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