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Último dia do mês. Hoje foi dia de ir a Lisboa, marcar o ponto na empresa que nos acompanha nesta nova etapa de procurar trabalho. Vou de comboio. É já de si uma aventura. Nunca viajei sem que algo estranho se passasse. Não é que não goste, mas não atino com este meio de transporte. Ora me esqueço de validar o bilhete, ora me engano na plataforma, apanho o comboio errado, saio na estação antes ou depois. Uma vez deixei-me ir até à última paragem. Nada de dramas. Deixei-me ficar sentada à espera que o comboio voltasse para trás de novo. Não paguei outro bilhete, achei que se não saísse da estação, não tinha que pagar!
Hoje resolvi juntar duas coisas que não combinam no meu mundo: comboios e saias. Sim, fui de saia no comboio! E lá começou: “Joelho com joelho, não relaxa, não areja”. Cheguei ao metro sem sobressaltos. Gosto de observar as pessoas, os comportamentos, os olhares, os gestos. E é bom ver que os portugueses nunca andam sozinhos, fazem-se acompanhar por um jornal, um livro, um ipod, um telemóvel com acesso a botar um Like. Os mais destemidos sacam de um tablet. O povo não é estúpido, muito menos inculto. É preguiçoso e tende a deixar levar-se pela monotonia da vida.
Percebi que os meus collants estavam a descer pelo rabo abaixo. Dava tudo para largar a mala, levantar a saia e puxar as meias até ao sítio onde elas devem estar: por baixo das mamas. Imagino a cara das pessoas se fizesse isso. Abanava-lhes a monotonia.
Em vez disso, pus-me nas minhas leituras. A Visão de há uma semana revela o tempo que tenho para me dedicar à coisa. Presto atenção ao artigo sobre a onda de turismo na Coreia do Sul. O culpado é Psy e o seu Gangnam Style. O senhor já tem uma estátua em Seul, um posto de turismo em Gangnam, vão abrir um centro de entretenimento e fazer um passeio da fama. Se é em África que há ouro, é na Ásia que se consegue transformar caganitas em pepitas. Imagino em Lisboa uma estátua da Ana Malhoa. Abanava-nos a monotonia. Mas, neste caso, também nos insultava o bom gosto e o bom senso.
Enfim, cheguei. Meias nas mamas, café no bucho, sorriso amável, podemos começar! Janeiro termina com uma luz ao fundo do aqueduto: uma entrevista na Segunda-feira. No big deal. É só para fazer uma coisa que gosto, numa instituição em que acredito e ao pé de casa.
Já não choro quando espreito as minhas folhas de vencimento. Já não me dá a tristeza depois de me encontrar com os meus antigos colegas. Fiz o luto e curei-me. Agora só falta curar-me do “nós”. Ainda dou por mim a dizer “ nós isto”, “nós aquilo”, quando falo do banco. Se calhar é porque durmo com um de “nós”…
No caminho para a escola.
- Já sei o que quero ser quando for grande. São duas profissões. Uma é Robin dos Bosques.
- E porquê?
- Para roubar aos ricos e dar aos pobres! (Tão fooooofo…)
E a outra é cozinheiro, para cozinhar melhor do que tu! (not so fofo).
Aguardo ansiosamente. As duas.
Duarte pega no seu dinheiro de brincar e diz-me:
- Toma uma nota de 200 e outra de 500 euros e vai comprar uma bimbi para ti e uma psp para mim.
Simples, prático, directo e generoso, como um homem deve ser.
É claro: estou mais gorda. Não tenho balança em casa, há muitos anos. Não é preciso, só preciso da minha roupa para saber logo se estou ou não mais gorda. Também já vi este filme. Isto significa noites sem dormir e dias a compensar em açucares e gorduras hidrogenadas. Inevitável para mim, que tenho a carne fraca e o espírito taralhoco. Não dormimos bem há cinco anos. Não dormimos uma hora há, pelo menos, uma semana seguida. Uma hora. Ninguém aguenta em frente a uma sobremesa!
Andamos em piloto automático, falamos de cor e guiamo-nos pelo instinto. Desesperamos de noite. Esta noite, deu-me para chorar. Já não durmo há uma semana... É tão bom quando eles crescem, falam e andam! Não fui feita para ser cuidadora de bebés mas, verdade seja dita, os meus saíram muito beras. Tivemos um azar do caraças. Resta-lhes a saúdinha, da boa. E, convenhamos, é o principal. É assim que me vou conformando pela perda diária de neurónios e o ganho diário de banhas.
A esta altura do campeonato, já temos resistência para aguentar qualquer tortura chinesa. Acordar de meia em meia hora?! Peanuts. Nós aguentamos dias sem ir à cama, levantar de dez em dez minutos, numa aula de aeróbica nocturna involuntária.
Dizem que cada um tem o que merece... Venha de lá o chocolate recheado com caramelo.
O meu Duarte armado em tio de Cascais:
- Mãe, estás imenso chateada comigo?
- Eu acho bué de giríssimo.
- Em toda a minha vida nunca vi uma coisa destas! Em toda a minha vida...
A propósito de devermos fazer o que gostamos e não trabalharmos só por dinheiro, que tal termos uma conversinha com J.J. Abrams, hein? Primeiro diz que não está interessado em realizar o próximo episódio de Star Wars, depois já diz que está em negociações com a Walt Disney! O homem está a fazer a pós-produção da sequela de Star Trek, a saga que o imortalizou, a saga supostamente concorrente da Guerra das Estrelas! Please, como se houvesse concorrência… É como pedir ao Pinto da Costa para ser presidente do Sporting!
Ok, agora vamos ver, em 3 D, Skywalker apaixonado por uma extraterrestre e a princesa Leia a ter aulas intensivas de klingon. Puhhh (isto sou eu a cuspir para o chão).
Folheava eu uma revista, daquelas que agora saem em formato “mala” - que comprei porque na capa avisava que se consegue perder 4 kg num mês - quando dou por mim a parar os olhos no capítulo “Alimentação”, mais propriamente, no relato de uma nutricionista numa ida virtual ao McDonald’s. A intenção era estudar a composição dos pratos desta cadeia e seleccionar a melhor opção, entenda-se, a menos calórica e mais nutritiva.
Bom, as conclusões advinham-se (até eu consigo mandar uns bitaites e não sou nenhuma autoridade em comida saudável):
O Mac, muito atento e inovador, que é, decidiu que em 2013 as suas embalagens viriam com mais informações nutricionais. Vai colocar códigos QR, que permitem aos Clientes ficar a conhecer mais sobre o produto que vão consumir.
Pronto, ensandeceram todos. Tudo isto só me fez lembrar uma expressão de alguém, relatada num dos blogues que costumo espreitar. Achei adequado e inesquecível. Fiquem com esta:
“Ir ao Mac e pedir uma salada, é como ir às p…. e pedir um abraço!”
A primeira impressão é que conta. Esta frase, quase verdade absoluta para alguns profissionais, sempre que me irritou solenemente. A primeira impressão vale uma caganita. Não é possível ficarmos a perceber a personalidade de alguém pela primeira impressão. E normalmente, se ansiarmos por fazê-lo, sai-nos o tiro pela culatra. Foi o que aconteceu quando a psicóloga me disse que eu era triste só porque tinha desenhado uma árvore depenada. Bela escola a dela! Eu faço a primeira impressão, eu manipulo a primeira impressão. Não há espontaneidade, são falsos sorrisos, falsos comportamentos, gestos pensados, palavras medidas. Querem espontaneidade, vamos à rua!
Diálogo entre uma portuguesa e uma brasileira, à saída de uma estação de comboio:
B- Você me deixa passar colada? Eu não sei do meu bilhetchi, acho que perdji, mas eu paguei!
A portuguesa olha e pensa: “Deves ter pago, deves…” Mas alinha, contente por poder quebrar umas quantas regras.
P- Vamos embora, atrás de mim! Pronta?
A portuguesa passa o bilhete no sensor e… nada. Bilhete inválido. Quê ??? Não, isto está errado, é problema da máquina. A portuguesa repete o processo e de novo a mesma resposta. Mau! Afasta-se daquele sensor, não vá o seu particular gosto por espancar máquinas vir ao de cima. Vamos a outra. Nada! Bilhete inválido.
P- Como é possível? Está válido, eu paguei!
A brasileira olha e pensa: “Deve ter pago, deve…” Remexe na sua mala, naturalmente cheia de tralha, e encontra, milagrosamente, o seu bilhete de comboio perdido.
B- Vá, agora você se coloqui atráss dji mim. Pronta?
Vergonha por vergonha, ao menos tinha espancado a máquina.
Ontem foi dia do preso. Ou melhor, da apresentação quinzenal do preso. Preso a uma esmola de subsídio, preso a um estereótipo, preso a uma necessidade que pode tolher a ambição de mudar de vida.
O Miguel adoeceu. Não há melhor dia para ficar em casa com ele do que no dia da apresentação quinzenal. Lá peguei no miúdo com febre e diarreia e metemo-nos no carro. Prendi-o na cadeira e senti um cheiro nauseabundo. Anda aqui animal morto… Não, havia alguém a sorrir, cheio de cocó. Resolvi ir na mesma: “Não há-de ser nada”.
Cheguei ao destino e no meio de um sol maravilhoso, desatou a chover, como se as nuvens estivessem a carpir mágoas. Bolas, fechada num carro, com um bebé mal cheiroso, encasacado, com febre e impaciente. Macacadas, caretas, canções, palminhas… nada. Lá agarrei nele e meti-o ao volante. É tiro e queda.
Consegui chegar à Junta, carregando mala, chapéu-de-chuva e uma criatura com quase 10 quilos e um bónus nas calças. Estava a tornar-se crítico… já ia na camisola. “Aqui estou eu. Não fugi do país (por muito que me apeteça), também não arranjei emprego”. Não havia sistema. “Oh céus, despache-se senhora, tenho aqui uma criancinha que fede!”. E o Miguel andava todo contente, indiferente à febre e ao cocó transbordante, de mão dada comigo, a tentar explorar o gabinete da senhora. Pronto! Temos carimbo, temos nova consulta marcada e temos muita pressa para chegar a casa.
O chamado dia de caca.