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Mais um dia de apresentação quinzenal. Mostrar a identificação, ouvir o som do carimbo a espancar a folha. Mais um dia sem trabalho, nem perspectivas. Com uma série de cursos na forja e um plano B a estalar a qualquer momento, o tempo escasseia e, por incrível que pareça, a imaginação também. Tenho que repousar uns dias para que consiga voltar a ver uma saída airosa desta auto-estrada inacabada. Eu páro e repouso, mas a vida e o tempo não têm a gentileza de parar comigo. Nada fica à minha espera, à espera do tempo para ter tempo. À espera que a minha espera tenha tempo para esperar.
Depois de umas semanas sem poder limpar o rabo, a Venezuela está com uma escassez muito maior e muito mais grave, para a qual o mundo tem que olhar e unir-se para ajudar. Não há vinho nem farinha para as missas.
Isto é verdadeiramente grave e preocupante. Não comparem prateleiras de supermercado vazias de leite, óleo ou açucar com isto! O importante é haver vinho natural, sem corantes nem aditivos nas cerimónias. Movam montanhas para conseguir farinha integral, que só essa serve para fabricar hóstias. Não há condições de trabalho para os párocos. A lotação dos templos está em risco. A eucaristia pode ter os dias contados. Ligue já o 760 900 900 e faça o seu donativo. Ajude a Venezuela a devolver a missa ao padre!
São notícias destas que nos dão ânimo para continuar a sorrir e a comer sem pesos na consciência. Os investigadores norte-americanos (who else?!) descobriram que a ingestão de chocolate tem o mesmo efeito nos músculos que o exercício físico. TOMA LÁ!
A culpa é da epicatequina, uma substância que desencadeia a mesma resposta muscular que as mitocôndrias que, como toda a gente sabe, são responsáveis pela produção de energia das células.
Não percebo porque é que a experiência não passou dos ratos aos humanos. Eu candidatava-me a ser testada! Aliás, era uma óptima maneira de ganhar dinheiro extra. Alguém podia inventar uma profissão assim, tipo cobaia freelancer . Já estou a ver a minha candidatura, sempre muito espontânea:
“Forte experiência em testes de laboratório e disponibilidade para enviar relatórios semanais via skype. Organizada e perfeitamente passiva, mas com espírito de equipa e ansiosa por colaborar com uma universidade de renome. Aliás, onde me vejo a trabalhar, daqui por cinco anos, mas como chefe de uma equipa de cobaias.”
Fechada um fim-de-semana em casa, com os miúdos com altos febrões, e a ver a Taça de Portugal - que sempre nos alegra e presenteia com fogareiros, febras e música boa – ocorreu-me a palavra “palhaçada” e logo depois “palhaço”.
Como pôde Miguel Sousa Tavares cometer o disparate de chamar palhaço a Cavaco Silva e à figura que representa?! Palhaço é uma profissão árdua, humilde, mal paga e pouco ou nada reconhecida. Não combina com Cavaco Silva. Está aqui, está a dizer que o Chapitô é o sítio perfeito para criar os netos e dar largas ao ócio; que Cavaco Silva é um expert em esculturas com balões.
Vamos ao fundo da palavra: palhaço deriva do italiano paglia, que quer dizer palha. Já a derivação inglesa clown vem de clod, que em tradução à letra significa “camponês”, mas que passou a designar qualquer coisa como “bronco”. Ora, se MST tivesse chamado “bronco” a Cavaco Silva não estaria o país a discutir se é ou não crime chamar palhaço a um Presidente da República. Ao menos tinha a etimologia do seu lado! E, como advogado, deveria antever situações como esta!
MST merece-me todo o respeito, pelo menos a senhora sua mãe, e parece-me um ser inteligente e talentoso. Mas desta vez, o desabafo correu-lhe mal. Parece-me que a única semelhança entre o presidente e um palhaço é o facto de não conseguirem pagar todas as despesas com os seus vencimentos.
Momento: Oh, nãaaoooo!!!!
Imaginem-se sozinhos num consultório médico com uma criança pequena ao colo, a gemer com 40 graus de febre. Dois segundos antes de a médica mandar entrar, o filho mais velho diz:
- Quero ir fazer cocó!
O meu Migas não fala, não diz palavra, só monossílabos. Espreme-se, quase literalmente, para dizer coisas como popó, cocó, cão ou gato. Só há uma palavrinha neste imenso léxico que nada lhe custa a soltar: pa-pá!
É para esta - e outras tantas muito piores com certeza - que vivo reservada. Chama-nos papá, aos dois, sem distinção. Portanto, o meu filho tem dois pais, porque assim o decidiu. Muito actual esta escolha. Sempre achei que se os meus filhos nascem curtos e atarracados, bem podiam ser compensados em abertura de espírito!
Hoje, passou mal a noite, cheio de febre e assim acordou. De manhã, largou sem pensar:
- Ma-mã!
Ouviram-se urras e vivas ao pequeno-almoço. Afinal, também são desenrascados e oportunistas: quando precisam, eles lá sabem como obter atenção e mimos. Mas palpita-me que a memória de peixe não vai deixá-lo repetir esta proeza mais vezes e vamos continuar a ser dois pais, um com mais pêlo do que o outro.
Para a classe média (porque menor ou quase inexistente, ela ainda sobrevive), diminuir despesas de forma quase imediata é a tarefa mais árdua que existe. Durante alguns anos, trabalhei com famílias em situação de sobreendividamento e, para mim, era fácil dar conselhos sobre poupança e cortes que pareciam inevitáveis. Um dia parei. No dia em que uma mãe me disse que não arranjava os seus dentes para dar ao filho, bom aluno (apesar da carência e do pai alcoólico), o único luxo que lhe podia dar: tv por cabo e, de em vez em quando, um happy meal.
Foi a primeira e única vez na minha vida profissional que chorei ao telefone. A nossa vida muda assim, em segundos, e, muitas vezes, em consequência de gestos e pensamentos de pessoas que mal conhecemos. Eu já tinha um filho na altura, bebé, alheio à televisão, mas imaginei-me a ter que adiar o meu sonho todos os meses para poder dar ao único filho uma coisa, aparentemente, simples, mas que o faz tão feliz.
Hoje em dia, esta situação é tão ou mais frequente quanto é repetida a palavra “troika” no nosso dia-a-dia. A classe média divide-se em sonhos por concretizar e realidades ajustadas e multiplica-se em dívidas e revoltas por falta de opções. Não existem ajudas sociais para a classe média, à excepção do subsídio de desemprego, que ainda é para todos.
Ter internet ou telemóvel deixou de ser um luxo para ser uma necessidade, sem a qual ninguém nos contacta. Também não há escolas, nem creches mais baratas. Para quem não sabe, um desempregado não tem prioridade em escolas IPSS. Para o Estado, quem está em casa pode ficar a tomar dos filhos. Depois admiram-se que haja famílias inteiras desempregadas a viver do RSI. Agora - só agora - percebo porquê.
Sobra-nos a solidariedade, o apoio da família e das poucas instituições que não despedem e ainda ajudam.
- Migas, toma a tua metralhadora e vamos à cozinha matar a mãe!
- Agora não me dá jeito morrer, vou fazer o jantar.
- Então, vamos jogar matraquilhos!
E inicia o relato aos berros:
Lima passa para Rodrigo. Rodrigo para Luisão. Luisão chuta para Cardozo. Cardozo não remata e Luisão tira-lhe a bola (?????????????). Luisão passa e Rui Unas faz o remate!!!
(??????? Unas?????).
- Duda, quem é que está a jogar?!
- É o Benfica-Chelsea.
- E o Rui Unas joga por quem?
- Benfica. O César Mourão também cá está.
Ok. Se a Rueff fizer parte desta equipa, eu passo a ir ao futebol todos os fins de semana!
Achava tão difícil ser aprovada uma lei que permitisse aos homossexuais a co-adopção de filhos biológicos ou adoptivos da pessoa com quem vivem como nevar em Portugal, em pleno mês de Maio. E lá estão as surpresas da vida!
O prefixo, para mim, continua a mais, mas, pelo menos, parte da hipocrisia terminou. Estamos um pouco mais maquiavélicos e os fins passam a justificar grande parte dos meios.
Tentemos ir mais longe e vamos fazer sku na Serra da Estrela em Junho. Tentemos aprovar a adopção de crianças por casais homossexuais. A decisão de adoptar uma criança é um acto de amor muito maior do que deixar de tomar a pílula e ficar à espera que saia.
- Mãe, sabes que hoje é o dia do silêncio?
- Não! Isso quer dizer que vais ficar calado o resto da tarde?
- Não, mas vou sussurrar.
- E podes começar agora?
Forte suspiro.
- Isto é um dia muito difícil para mim…