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“Finalmente as férias!” Era o suspiro aguardado, mas que ficou retido na garganta, levantando um remorso pela falta de entusiasmo. Adoro ir de férias, arejar a mente, esquecer-me de tudo, das rotinas, dos horários, das pessoas e das preocupações. Este ano, não preciso de arejar a mente, nem esquecer-me de preocupações ou das pessoas. As rotinas vão ser as mesmas do resto do ano e o trabalho igual: limpar, cozinhar, dar banhos.
QUERO UM EUNUCO!!! Quero mandar em alguém - entenda-se, que me obedeça -, alguém que me faça tudo, que me abane se tiver calor, que me borrife de 10 em 10 minutos, que me apresente o jantar na mesa a tempo e horas e com um sorriso na cara. Alguém que quando as criaturas começarem à bulha, me diga: “Deixa, eu trato do assunto para tu dormires a sesta”. Oh, a sesta!!!!!!!!!!!!!!!!!!! O meu livro preferido nas férias é a sesta!!! Está-se mesmo a ver que nunca leio…
Estamos pobres. Mas, como diz o vice-presidente da Associação de Integridade e Transparência, chegámos aqui por culpa da corrupção e não pelo excesso de crédito. Os apoios sociais são cada vez mais necessários. Mas ajudar – apesar de muito gratificante - nem sempre é fácil. Desde o início do ano, eu e uma amiga enveredámos pelo mundo das ONGs. O Estado paga-nos e nós achamos que não é só para ficar em casa a limpar o pó.
Estes meses foram importantes para perceber que nem tudo é o que parece. Em sítio algum, as coisas são exactamente como parecem. Não generalizando, felizmente, concluímos que nem as instituições são tão altruístas como é sua missão, nem toda a gente necessitada é tão grata e empenhada como devia. Nem as instituições são tão abertas e isentas, nem todas as pessoas carenciadas são tão responsáveis e cumpridoras das regras do serviço social.
Como em todos os mundos, este também tem os seus podres. Em todo o caso, vale sempre a pena tentar ajudar. Somos todos humanos: erramos, sonhamos, choramos, desistimos, para logo depois voltar a lutar. Às vezes, basta saber que há alguém que pensa em nós, que deixa de beber cafés para fazer um donativo, que deixa de comprar uma mala nova, para oferecer paletes de leite, para continuarmos com força para viver, em vez de sobreviver. Ajudar alguém é ajudar-nos a nós também. Hoje tu, amanhã eu. O lema é este e é tão verdadeiro como assustador.
Se está frio, é porque está frio em Junho e não é tempo que se apresente. Se está calor, bufa-se de calor, ai e tal, porque isto já é demais! Nunca estamos satisfeitos. Falo por mim, que não gosto deste calor. Máxima de 27 graus, é a minha onda. O meu cão está velho e há já alguns anos que prefere aliviar-se à chuva do que derreter debaixo de um sol ofegante. Eu sou do mesmo clube. Excepção feita à parte de me aliviar na rua. Ainda não me deu para isso.
No Inverno, é a mesma coisa: se chove é porque chove e já não há pachorra para ficar em casa aos fins-de-semana; Se não chove, é porque vamos ter um ano de seca.
Se não saímos de casa, é uma chatice, se saímos é um transtorno, porque ficámos com tanta coisa por fazer! Se levamos um livro na mala, não lemos, se não levamos, suspiramos por ele.
Eu trago sempre água e bolachas na mala. No dia em que me esqueço, os meus filhos pedem-me água e bolachas e pão. É o contra da vida ou a vida do contra.
Natureza difícil esta, a do ser humano!
Meti-me a fazer um curso online através de um site americano, que disponibiliza cursos de várias universidades e em algumas línguas. Escolhi um, leccionado a partir dos EUA, que debate a importância para a nossa saúde do ambiente social em que estamos inseridos. Porque é que o ébola mata em África e não mata na Europa? Este género de coisas. São muitos filmes na carola!
Ando, portanto, metida entre biólogos, médicos, sociólogos, epidemiólogos. Entre centenas de posts e comments, eu nem me atrevo a questionar a matéria ou a fazer perguntas, porque todas seriam estapafúrdias. Pareço uma lata de refrigerante a boiar no meio de um oceano. Mas o interessante é ver que este tipo de ensino, não só é muito eficaz, como é muito democrático, abrangendo gente de TODO o mundo. O indiano fala com o aluno brasileiro, o português debate com o sueco. É interessante ver como pessoas que todos os quadrantes do planeta conseguem debater um mesmo tema, com a mesma paixão, levando a sua cultura e visão ao outro canto do mundo.
Mais interessante ainda é perceber que aqui, por muitas licenciaturas, mestrados e doutoramentos que tenhamos, somos a Patricia, a Lisa, o Michael ou o Erik. Ainda não apareceu nenhum que se chamasse “Senhor Doutor”. É das poucas coisas que gosto no povo americano, tratam-se pelo primeiro nome, sem apelidos, sem títulos, sem cognomes! O professor, por exemplo, é co-director da Universidade do Minnesota e orienta dezenas de doutoramentos, todos os anos, nesta matéria e dirige-se a qualquer um de nós apresentando-se como Michael. Estão a ver alguém numa universidade portuguesa a apresentar-se como: “Olá, eu sou o Miguel e venho ensinar-vos Epidemiologia.” Nã… em Portugal, o nome próprio mais comum não é João, nem José, nem Miguel, é Doutor.
Perder o emprego é considerado, por vários estudos, como um dos maiores traumas a que alguém pode estar sujeito, só superado pela morte de um ente querido. Se bem que é uma pancada das grandes – a qual paralisa muita gente durante muitos meses - acho, ainda assim, que existem traumas bem piores. O abuso sexual e a violência doméstica são bons exemplos. Ser portador de uma doença rara ou assistir à luta sem trégua contra uma doença, de alguém que gostamos muito, também me parece mais traumático. Tudo isto me parece muito pior do que o desemprego.
Mas perder o emprego pode levar rapidamente à falta de dinheiro, à fome, à desestruturação de uma família, ao abandono social, à criação de dependências, à depressão e, mesmo, ao suicídio. Mas... analisando bem, as outras situações também.
A diferença parece chamar-se “vergonha social”. Ainda perdura a vergonha de nos assumirmos como um sem-abrigo profissional. A vergonha de alguém pensar que não eramos imprescindíveis. A vergonha de sermos inúteis à sociedade e um fardo para o país.
Continuamos a usar eufemismos como “estou à procura de um novo desafio” ou “estou numa fase de transição”. Não! NESTE MOMENTO, NÃO TENHO EMPREGO. Significa que algum dia terei. Também não sou inútil à sociedade. Ajudo pessoas todas as semanas, ajudo a minha família a ser unida e feliz, ajudo a educar dois futuros contribuintes e sou útil numa instituição qualquer, com a qual ainda não esbarrei. Sou um fardo hoje e uma ajuda amanhã. Vergonha? Vergonha é não fazermos o nosso melhor. Até no desemprego.
A única coisa boa que a idade tem é ensinar-nos viver a vida da melhor maneira, que é a maneira que mais nos convém, a que nos assenta melhor e a que nos faz mais feliz. Não há muitos anos, questionava-me ferverosamente como é que as famílias mais pobres tinham mais filhos que as mais abastadas. Seria falta de bom senso, falta de informação, falta de cultura? Acho que nunca vi o outro lado da questão. E se não é a falta, mas sim a sobra? E se nos sobra vontade de partilhar? E se nos sobra imaginação para esticar o dinheiro? E se nos sobra alegria para dividir? E se nos sobra amor para multiplicar?
Um filho muda-nos a vida para sempre: as rotinas, os horários, os sonos, as prioridades e a paciência. Quando temos um, queremos o melhor: a melhor roupa, o melhor sapato, a melhor mochila, a melhor escola, a melhor alimentação. A partir daqui, as opiniões dividem-se. Eu sou filha única porque os meus pais quiseram dar-me o melhor. Se eu tivesse tido um irmão, não poderiam dar o que sonharam. Eu cá, preferia, de longe, ter tido um irmão. Se calhar digo isto porque não tive.
Hoje em dia, consigo ver o outro lado da questão. Hoje em dia sinto a sobra de amor, tempo e imaginação. Chego à conclusão que quanto menos temos, mais conseguimos multiplicá-lo, menos apegados ao dinheiro ficamos e conseguimos ser felizes e, principalmente, fazer felizes os outros, com muito menos do que pensávamos ser possível.
Esta semana, as senhoras da Segurança Social colocaram uma anotação no nosso processo. Não fazemos a mínima ideia do que escreveram. Depende do que sentem, depende se querem contornar regras, depende se vêem a falta ou a sobra.
O amor é tratar o outro como gostávamos que nos tratassem. Mas um pouco mais: é saber como o outro gosta de ser tratado e sairmos um pouco do nosso gosto para entrar no gosto do outro. A perfeição é assim uma prima afastada do amor. Felizmente, digo eu.
A felicidade é quando nos encaixamos, sem culpas, sem remorsos, sem grandes exigências, só respirando paz e serenidade. A felicidade existe quando não damos por ela.
Este mês faço nove anos de vida em comum. Ontem, o Luís deu-me uma prenda. Não é de prendas, de abraços, de beijos ou sequer de se lembrar de datas comemorativas. Mas ontem, deu-me uma prenda para comemorar o nosso aniversário. A data certa não foi ontem, vai ser para a semana. Mas o que isso interessa realmente? Lembrou-se e quis comemorar. É isto o amor.
Não tarda, um quarto da população activa portuguesa está sem emprego. Ainda assim, continuo a ouvir na rua que não trabalha quem não quer, que a crise é só para quem é preguiçoso. Pergunto-me o que fará a pessoa, que família e amigos tão especiais tem, que não conhece quem esteja desempregado. Pergunto-me que maravilhoso poder tem para conseguir ler a mente do seu chefe e ter a certeza que ele não conspira contra si.
Quase a invejo, não fosse o facto de ser estúpida, arrogante e com grande dificuldade em olhar à sua volta. O seu umbigo deve ser enorme. Há umbigos assim, nunca caiem, continuam ali pendurados, esticados, enormes e malcheirosos.
Transformo-me por segundos. Viro bicho, incho de ódio, qual peixe-balão. Mas vale a pena? Não! A vida encarregar-se-á de lhe dar uma lição. Eu nunca tive jeito nem paciência para ser professora. Ou isso, ou um dia morde a língua e morre.
Aquilo que se ouve e a que se assiste nos consultórios daria para escrever um livro. Estava à espera de ser atendida, à espera de ouvir que a minha felicidade profissional é inversamente proporcional ao meu peso. Infelizmente, tive que partilhar a sala de espera com a pediatria. Eu digo infelizmente porque muito embora tenha filhos, não sou capaz de fazer deles o meu passaporte para o sucesso pessoal ou carreira como criadora de cavalos de corrida.
Um pai e uma mãe que nunca se tinham visto na vida partilhavam as maravilhas da maternidade. Pais tardios – o comum hoje em dia – com um só filho criado com tudo do bom: o sapatinho de 80 euros na idade certa para poder andar sem desenvolver pé chato; a chucha adequada à idade e ao formato da boca, para não deformar os dentes; comer a papa de marca porque as outras não têm os nutrientes todos e beber o leite mais caro da farmácia porque… sim, porque amamos o nosso filho incondicionalmente.
- A minha filha começou a andar com 10 meses, tem muita energia!
- Ah, deixe lá que a minha tem 7 meses e já se põe em pé no berço sozinha!
Nesta altura, não me consigo concentrar na leitura do livro que ando a ler há meses. Este arrastar de prazer é feito por preguiça, por descuido, pela dita falta de tempo, que é a grande desculpa para a falta de paciência. O que oiço é desculpa suficiente para voltar a pôr de parte a prosa.
- Pois, a minha até já fala, diz o nosso nome!
- Pois… a minha ainda só bate palminhas.
Jogou pelo seguro. Seria estranho alguém com sete meses dizer algo inteligível, a não ser que estivesse possuída por algo maligno. Mas agora apetece-me atirar-me da janela. Isso ou gritar: - Olhem, o meu tem 17 meses e já faz casamentos e baptizados!
E continuam:
- Já diz cocó e tudo. Mas ainda não distingue o cocó dos puns!
Uh, que nojo! O que dirão as criaturas quando crescerem e perceberem que os pais denunciavam assim os seus íntimos numa sala de espera?! E quem é que quer ouvir este nível de pormenores?!
- Quanto é que pesa a sua? O meu pesa 8 quilos.
- Esta pesa só 9, tem que comer mais.
Porquê??? Vão para a feira vendê-los ao quilo?!?! Tenham juízo!!!
Espanquem-me se algum dia me ouvirem dizer estas coisas.
Este mês tem sido cheio de emoções. O meu Duda é finalista. Agora é-se finalista aos 5, aos 9, aos 11, aos 14, aos 17 e sempre que a escola quiser. Vai ter direito a capa, fitas assinadas e entrega de diplomas numa cerimónia que se prevê cheia de lágrimas. A verdade é que a maternidade não mudou grande coisa em mim, como sempre vaticinaram, a não ser o medo adamastórico da morte e o descontrolo dos meus sacos lacrimais (precisavam de qualquer coisa como um cruise control). Portanto, este mês é chorar forte e feio por ter um gaiato finalista. Analfabeto, mas finalista.
O meu Migas foi mascarado de girafa para a festinha da escola, com chucha e 39 de febre. Amanhã é mais um dia de sangue, suor e lágrimas. Vamos outra vez fazer análises. Da última vez, a migalha transformou-se em Hulk e deu um “chega para lá” às enfermeiras e tirou as agulhas do sítio. Eu aguentei estoicamente a gritar as músicas do Panda.
Este mês, faço 9 anos de casamento. Tem sido mais que bom. O único senão é talvez o facto de os nossos genes darem crianças que não dormem. Por isso, decidimos que o próximo é adoptado.
Este mês é o mês que me cortam 10% no subsídio.
Cheira-me que não vamos ficar por aqui...