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coitadinhodocrocodilo



Quarta-feira, 31.07.13

A lógica do crocodilo

- Cá em casa é assim: tu mandas no pai, o pai manda em mim, eu mando no mano e o mano manda no cão.

Está tudo dito! Um catraio que percebe de hierarquias.

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por coitadinhodocrocodilo às 18:10

Terça-feira, 30.07.13

O jeito que a mímica dá!

Há já algum tempo que procuro sítios onde aprender língua gestual. Antes, dizia “linguagem gestual”. É comum o erro. Os surdos-mudos têm uma língua gestual portuguesa, diferente da inglesa ou da dinamarquesa, mas parecida com a sueca, por ter sido um cidadão sueco a introduzi-la em Portugal.

Ontem, nas minhas andanças, atendi mãe e filho, ela quase surda, ele profundo, em III grau. Falar de juros de mora, amortização ou capital vincendo com o comum dos portugueses já é difícil, falar com quem não ouve, ainda mais. Dei por mim a gritar – como se ajudasse – e a gesticular que nem uma doida, fazendo uso da experiência de décadas nos jogos de mímica. Quem nos visse de fora, diria que estávamos a jogar pictionary. De facto, foi uma espécie de pictionary financeiro.

Conseguimos falar de muita coisa, inclusivamente da grande dificuldade dos surdos-mudos em serem bem atendidos em qualquer serviço.

Terminei o atendimento a fazer a chamada “conversa de circunstância”. Não é fácil! Tentem dizer: “Está um lindo dia senão chover” por gestos! Mesmo assim, conseguiu ser mais interessante do que muitas conversas que já tive. Disse-lhes “obrigado” como via nos filmes. Ou seja, agradeci-lhes em inglês. Corrigiram-me para português e a vontade de aprender esta língua ficou ainda maior.

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por coitadinhodocrocodilo às 09:07

Segunda-feira, 29.07.13

Desempregadamente

Desconfiança dos mercados, cortes até 2014. Os jovens são (quase) obrigados a escolher um curso com alguma saída e renunciar à vocação e ao sonho. Os presos preferem renunciar à liberdade do que serem largados na selva do défice e da crise. O abandono e a exclusão social são uma realidade chocante, salários compatíveis com a exigência da vida são uma realidade virtual. Isto é o chamado “mundo ao contrário”.

Cada português vai ganhar menos 800 euros este ano. Para o ano, logo se vê. Para o ano, não sabemos sequer se ganhamos alguma coisa. É difícil imaginar. Tanta gente que me diz que o desemprego pode acontecer a qualquer pessoa. Talvez o digam só para me consolar e na realidade pensem que só acontece a quem se põe a jeito. É a arrogância do ego que tem vergonha de gritar. Mas ninguém se põe nos meus sapatos, porque nunca damos realmente valor ao sofrimento dos outros a não ser quando passamos por algo semelhante.

A desempregada. Podia ser a fanhosa, a maneta, a badocha, a emproada. Mas sou a desempregada. Gosto de pensar nesta palavra como um advérbio de modo: – Como estás? - Estou bem, desempregadamente bem.

- Olá, então o que é tens feito? - Tenho procurado desempregadamente trabalho. É isso! Não me sento no sofá o dia inteiro, se é isso que querem realmente saber quando perguntam o que tenho feito. Vou trabalhando desempregadamente em casa. Chega-vos?

Agora estou oficial e desempregadamente de férias, porque nada sucede em Julho e Agosto. Nem o governo cai, nem a Fanny posa nua, nem a Merkle morre, nem ninguém contrata ninguém e muito menos alguém quer ser contratado a meio de umas férias caturras. Temos que ser desempregadamente convenientes.

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por coitadinhodocrocodilo às 09:33

Sexta-feira, 26.07.13

Ego de peixe-balão

Quando incham, os egos pregam-nos partidas. Nunca gostei de gente inchada, tipo peixe-balão, e com excesso de confiança. Os putos charilas, macacos sem pila. Esta semana, o puto charila lá da Galiza, de ego inchado, excesso de confiança, vazio de bom senso e de responsabilidade, mas com um facebook recheado de feitos inigualáveis, matou dezenas de pessoas e feriu muitas mais.

Não se brinca na estrada, não se brinca na linha do comboio, muito menos com a vida alheia. Mas um ego inchado é um ego míope. Não sei se preferia que ele tivesse morrido carbonizado ou vivido, para apodrecer na cadeia. Qualquer uma das coisas é pouca para o sofrimento causado por um estímulo animalesco de train racing. Puto charila, comboio que descarrila.

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por coitadinhodocrocodilo às 18:39

Quarta-feira, 24.07.13

A lógica do crocodilo

Sentado no sofá a ver um programa sobre animais.

- “Os koalas dormem cerca de 18 horas por dia”.

Salto do sofá. Eureka!

- Mãaee! Vamos levar o mano para viver com os koalas e aprender a dormir!!!

Por mim tudo bem. Já pensei em coisas piores. Ok, o mano vai para os koalas, tu vais viver com os diabos da Tasmânia e eu e o pai vamos curtir um mês na Oceânia. Parece-me justo.

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por coitadinhodocrocodilo às 20:53

Domingo, 21.07.13

Um zombie moderno

Um dia destes estava a ver um filme com o escultural Daniel Craig em que a Nicole Kidman apanha um vírus que se transforma durante o sono, tornando-a um ser alienígena. Disse para comigo: “Esta pareço eu”. – “Não pares, não adormeças. Não te encostes, não adormeças, não adormeças”.

Se eu adormecer, tenho medo daquilo em que me posso transformar. Se me encostar num semáforo, à espera que apareça o verde, eu adormeço. Se me encosto no sofá a ver televisão, eu durmo. Se me sento numa cadeira a ler um livro, eu ressono. Se adormecer, não sei quando volto a acordar.

Não páro. Não páro de me mexer, de falar, de pensar. Não posso parar. É a vida de um zombie moderno, de quem não dorme, não tem perspectivas de dormir, não tem previsões para voltar à vida maravilhosa das oito horas de sono. Essa é a minha utopia, a minha visão thomas “moresniana” da vida. Há quem sonhe com um porshe. Eu trocava vinte carreras e panameras por oito horas de sono.

 

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por coitadinhodocrocodilo às 14:24

Quinta-feira, 18.07.13

San Miguel

Toda a gente já leu algures que ter um cão em casa é saudável para as crianças: dá-lhes responsabilidade, auto-estima e mais paciência. Também lhes dá imunidade a muita bicharada que anda por aí. A relação deles depende do tempo que passam juntos, mas, parece-me, sobretudo do feitio da criança.

O Duarte nunca ligou grande coisa ao cão, não gosta quando ele o lambe ou se atira para cima dele. Mas quando chegava a hora de fazer o retrato de família, o cão estava lá desenhado e ai de quem dissesse que não podia ficar.

O Miguel adora o Sansão. Adora bichos, no geral, o cão em particular. Tem uma relação de irmão e trata-o absolutamente como se fosse um ser humano. Fala com ele (falar é uma força de expressão), mima-o e nunca sai de casa sem lhe dizer adeus.

Nestas férias, só agora, reparámos que desta alegre convivência desenvolveu-se algo mais simbiótico. Por ausência do bicho em casa (que também gosta de ir para os avós), acharíamos normal um silêncio quando alguém tocasse à campainha. Em vez disso, reparámos num ser pequeno a ladrar e a correr para a porta. Sim, o Miguel ladra quando alguém bate à porta. E nunca tínhamos reparado porque havia outro ser mais histérico e mais barulhento. Efectivamente, é igual, com excepção do abanico de rabo, que ele ainda tem que treinar melhor.

Ando a iniciá-lo nas andanças do penico, sem grande sucesso, mas também sem grande insistência dada a idade. Pergunto-me se teria melhor sorte se o ensinasse a alçar a perna.

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por coitadinhodocrocodilo às 12:03

Terça-feira, 16.07.13

'Tou...

Lembro-me da colecção de “’Tou’s” que saía nos bolicaos quando erámos adolescentes. Enchia os dossiers com aquilo. A minha vida era um “’’tou”: tou triste, tou bah, tou a rebentar.

A expressão “’tou de férias” quando se está desempregada parece não fazer sentido, mas na realidade faz. ‘Tou de férias de ver anúncios, ‘tou de férias de mandar cvs, de inventar cartas de apresentação que digam maravilhas sobre a minha pessoa e que descrevam de tal modo o meu entusiasmo em ir trabalhar para aquela empresa, que o gajo que abrir o email estremece de emoção.

Bom, estive de férias. Agora já não ‘tou. E recomeçam os carimbos, os e-mails, os anúncios que dão para rir e chorar ao mesmo tempo, os choradinhos aos amigos e conhecidos (Se souberes de alguma coisa…), as tentativas de cunha (NÃO ME FALEM EM NETWORKING!!!) em instituições conhecidas. Às vezes sinto-me um caracol a arrastar-me no meio de um deserto interminável. ‘Tou bah.

Ninguém se digna a responder. Curiosamente, o único e-mail que recebi a agradecer a minha candidatura foi uma que entreguei em mãos. ‘Tou furiosa.

Ninguém, que eu conheça em situação semelhante, conseguiu, até agora, novo emprego. Só quem decidiu – e em muito boa hora – abrir um negócio, lançar-se por conta própria. É a saída ao fundo do túnel. Sempre foi esta a minha ideia: ou tens jeito para alguma coisa e aproveitas esse dom para mudares de vida ou ficas à mercê da sorte. Sim, porque não é preciso talento, é preciso sorte. Talento só é necessário para te saberes vender. O resto, é estares no sítio certo à hora exacta, teres “bons” padrinhos e um empurrãozinho nas costas. ‘Tou numa de cunhas!

 

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por coitadinhodocrocodilo às 09:21

Sexta-feira, 12.07.13

Chichi-cocó

Quem tem filhos, conseguirá rever-se no que vou dizer. Para não tem, provavelmente, será um desabafo incompreensível. Há uma altura da nossa vida de progenitor(a) em que a coisa mais importante, aquela em torno da qual giramos, é o chichi e o cocó das crias. Somos, muito possivelmente, a única espécie no mundo em que isso é motivo de preocupação, gaudio, alívio e ansiedade.

Quando os bebés nascem, a preocupação é se cagam em condições. E é assim até, pelo menos, aos dois anos de idade. Não estou a ver um tigre ou um gnu ou uma suricata preocupados se, e onde, as suas crias se aliviam.

Esta semana, o Miguel foi fazer uma segunda análise à urina. Finalmente lá se detectou a causa dos 40 graus de febre de 15 em 15 dias. Agora é pô-lo na engorda como as galinhas, que o bicho está pequeno e franzino. Previa-se uma espera de mais 4 horas a olhar para a criatura e a encher-lhe o bucho de água, para ver se saía líquido. Da última vez, nada. Desta vez, não sei se foi porque o pai estava lá, e numa surpreendente solidariedade masculina, mijou numa hora. Digo-vos, com toda a sabedoria, que não foi uma má média.

Pelo caminho, encontrámos uns amigos que tinham passado pelo mesmo dilema de estar 4 horas a olhar para um bebé à espera que urinasse. É verdade, 10 fraldas por dia e quando é preciso, encolhem.

E assim se passa um dia. Assim é uma fase de uma espécie muito complicada e com crias muito dependentes, até muito tarde (prevê-se que até aos 30, não é?). Por mim, que não aprecio bebés (danei-me para a cena do “parece mal escrever”), passava em modo fastforward esta fase chichi-cocó.

Para a semana, vou repetir a dose. Vou ficar especialista em "mijar a pedido".

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por coitadinhodocrocodilo às 17:58

Terça-feira, 09.07.13

A bruxa sanguinária

Como é que se explica às crianças quando é que é legítimo matar animais? Eu desdobro: como é que justificamos a uma criança que matamos uma melga, uma traça, uma barata ou um rato e não um cão ou um gato ou um pássaro?

Hoje vislumbrei este futuro dilema ao matar uma traça gigante em frente do Miguel. Chorou desalmadamente ao ponto de me fazer sentir uma bruxa má. Se falasse, denunciar-me-ia à protecção de animais.

Como se explica o festejo de um “esborrachamento” de um ser desprezível que em nada contribui para a nossa felicidade? Depois disto, porque não matar uma joaninha ou uma borboleta?

Acho que as crianças servem para nos fazer descer uns degraus e reflectir sobre assuntos aparentemente simples, mas quando pensamos neles, percebemos que perdemos as maravilhosas capacidades de sintetizar, simplificar e desdramatizar.

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por coitadinhodocrocodilo às 00:21

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