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Querida Cristas,
Escrevo-te para dar o meu apoio à medida que pretendes implementar. Parece-me que saiu de algum trauma de infância ou tens uma vizinha com uma criatura de sete quilos, deveras irritante.
Também eu repudio fortemente a presença de cães e gatos em apartamentos. Não têm privacidade, não têm espaço, não têm onde urinar. Sabe deus (esta é dedicada a ti, que eu sei que és católica) o quanto eles agoniam entre quatro paredes! O dia inteiro a dormir em carpetes e mantas quentinhas!
Compram-lhes capinhas para a chuva, calcetines para as patas e insistem naquelas alcofas pindéricas, onde que eles dormem confortáveis. Cão que é cão, mija à chuva! Gato que é gato, não arranha cortinados, sobe árvores para dilacerar pássaros!
Arrisco-me a dar-te esta ideia: porque não proibir de todo o contacto entre cães, gatos e humanos? Era colocá-los a todos num zoológico dos domésticos. Lá sim têm condições: jaulas a céu aberto, com 8 metros quadrados, onde podem alegremente conviver, no mínimo 8 cães e morderem-se à vontade.
Quando quisermos explicar a um filho o que é um cão ou um gato, podemos sempre visitar o parque e participar na alimentação dos gatos, assistir ao espectáculo dos cãezinhos amestrados, aprender como procriam (com vídeos explicativos, para não ferir susceptibilidades).
Até vou mais longe. Porque não aplicar esta regra às crianças? Tenho consciência que manter mais do que duas crianças num apartamento é insuportável. Imagina, três, quatro, cinco criaturas em menos de 100 metros quadrados, a guinchar, a largar brinquedos por todo o lado.
Não leves a mal este meu desabafo. Espero que não tenhas cães, nem filhos.
Atentamente,
Patrícia
O meu amor faz anos hoje. Acabaram-se os três anos de diferença. Agora são só dois. Claro que faz toda a diferença! Depois dos 35, corre-se a caminho dos 40!!! Finalmente, estamos no mesmo caminho.
De resto, sempre estivemos.
Há treze anos conhecíamo-nos numa festa. Trabalhávamos no mesmo sítio há mais de um ano sem termos dado um pelo outro. Foi inesquecível. Não porque nos conhecemos, entenda-se, mas porque o fizemos com um elevado nível de álcool no sangue. Um mais do que o outro. Foi a maior borracheira que apanhei na minha vida. Horas das quais me lembro apenas de alguns minutos. Devem ter sido os melhores porque a partir daí começámos a trocar palavras.
Treze anos depois, muitos cabelos brancos, um cão, dois filhos e muita alegria e parvoíces pelo meio, cá estamos nós a festejar mais um aniversário do Luís. Continua a manter o espírito de um adolescente: tenta aprender surf como um miúdo de 15 anos, fuma um cigarrinho às escondidas (dos pais e, agora, dos filhos), como um miúdo de 16 e partilha vernáculo com os amigos, como se tivesse 17.
Parabéns, Luisinho!
Duas ou três horas de aulas seguidas, cinco horas sem comer. Parece que é para isso que uma criança está reservada. E toda a gente encara isto com muita naturalidade.
Estamos a treinar potros para serem verdadeiros cavalos de corrida, daqueles que aparentam ser imbatíveis e campeões, que ganham tudo com distinção e facilidade. À primeira contrariedade da vida, vão-se abaixo, encharcam-se em comprimidos, deixam de dormir, não conseguem relaxar nem estar sozinhos. Sofrem de ansiedade, stress e refugiam-se no trabalho e nos feitos alcançados.
São estas crianças, perfeitas, que um dia serão adolescentes e adultos com graves problemas emocionais. A violência nas escolas começa dentro da sala de aula, onde não há adulto que se mantenha concentrado durante mais de 45 minutos. E esperam que uma criança o faça.
Deixem-nos brincar!
Sabemos que temos que desaparecer o mais depressa possível, quando o nosso filho de 21 meses constrói uma pistola em lego e desata a "matar" os meninos da sala de espera do médico.
Senti aquele nervoso miudinho como se fosse eu que tivesse teste hoje. Não lhe largava a mão antes de entrar na escola.
- Fica bem; pensa bem; lembra-te daquilo que estudámos…
- Sim… mas, larga-me. – diz-me naquele tom irritante de pré-adolescente, no alto dos seus seis anos.
Sou a única que faço estas figuras? Parece tão óbvio e tão importante este apoio. Ele é como eu: fica doido com pressão e stress. Não nascemos para que mandem em nós e nos obriguem a fazer coisas, só porque sim, porque tem que ser. Nascemos para ser criaturas livres, perfumadas em anarquia.
Sou contra os TPCs, sou contra a importância que dão aos testes, sou contra a ausência de aulas fora de quatro paredes (volta, Pitágoras!). Porque é que observar o comportamento das abelhas não é tão importante como fazer adições na maravilhosa recta numérica?!
Sou, portanto, muito má influência para qualquer criatura que esteja a iniciar o ensino obrigatório. Também me parece que me vou tornar uma estrela nas reuniões de pais!
O que é que já fizeram hoje, ontem, esta semana, este mês, este ano, em toda a vossa vida para melhorar a vida dos outros? Muita gente responderia que contribui nas campanhas do Banco Alimentar contra a Fome. É melhor do que nada. Pouco é sempre melhor que nada. Que toda a gente desse o seu pouco...
A nossa vida e as nossas necessidades são sempre mais importantes, o centro do nosso umbigo. E poucas vezes paramos para pensar que há tanta gente que sonha com um terço daquilo que temos. Não pensamos. Sabe melhor passar ao lado da pobreza, montados no nosso cavalo de ambição.
Uma das coisas que mais me custa no trabalho de voluntariado é a incapacidade de ajudar toda a gente. Retrair a vontade de encher carrinhos de supermercado e andar por aí a distribuí-los.
- Venha, venha. Eu encho-lhe a despensa!
Irreal, improvável. Que doideira.
Esta semana, mais uma mãe a lamentar-se que o mês ia a meio e já não tinha comida para os quatro filhos. (Prendam-me à cadeira senão eu voo até ao supermercado!). Que doideira. Ainda bem que não me pagam para isto.
Sim, tudo o que damos, um dia recebemos. O bom e o mau.
Deprimente é quando alguém tem que nos ajudar a despir para entrarmos na cama. É sinal, ou que já não saímos há muito tempo ou que estamos com uma borracheira. Ou ambas as duas.
Ainda bem que, na maior parte das vezes, não nos lembramos de nada.
Lá estou eu a percorrer anúncios, porque é verdadeiramente para isso que me pagam. Parei ao dar de caras com uma oferta que anunciava como contrapartida um “package atractivo”. Tive uma vertigem e fiquei-me por aqui.
A esta altura do meu campeonato, já não tenho esperança de arranjar emprego. E digo isto sem qualquer demagogia, nem pena de mim própria. Há vários motivos que contribuem para isso, a maior parte incompreendida por quem nunca esteve desempregado. Mas, essencialmente, porque me apavora a ideia de passar 9/10 horas fechada num escritório com gente ambiciosa, chegar a casa, descarregar as minhas frustrações em quem mais me apoia e chegar ao fim do mês e ver um ordenado com três dígitos (a começar por um seis).
Decidi que quero investir em mim e na minha qualidade de vida. Decidi que quero comprar um TABLET. Um tablet é o passaporte para o sucesso profissional. Qualquer comerciante - que hoje em dia se (auto) intitula “empresário”, um sócio-gerente de qualquer coisa, um manager (como eu adoro esta palavra! Me encanta, pronto!), - tem um tablet. Pronto, quero um. Acredito cegamente que, a partir daí, o meu sucesso profissional vai desabar sobre mim, de tal maneira que não me vai caber um chícharo no dito cujo.
Vou ter um tablet e ser manager. Nos tempos que correm, há que inovar: primeiro, o carro, depois os bois.
Pode dizer-se que vendi um carro em meia hora. Pode dizer-se que foi um record. Meia hora depois de bater o enter nos sites da moda, ligavam-me a dizer que queriam ficar com a viatura. Assim, às escuras, sem ver o carro. Desconfiei.
O telefone não parou desde aí.
- “Estou? Sou de Barcelos. Sabe onde fica?”
Seis da tarde. Horinha crítica aqui para as minhas bandas. O telefone continua possuído.
- “Sim? Já percebeu que sou dos Açores…”
Pois já. Não percebia nada, não ouvia nada. A criançada não pode ver-me de telefone na mão que desata aos berros, aos choros e aos súbitos ataques de ansiedade que só sossegam com colo.
No meio da confusão, do sotaque, do negócio, está o Duarte a gritar que “desta vez” é a sério. “Ah, ahhh, des-ta vez!!!” Mando para trás das costas o pensamento vingativo quando vejo o Miguel encharcado em algo.
Deixei de ouvir o açoriano. O Miguel tinha decidido lavar-se com ajax. Cara e olhos incluídos. E chorava que se matava, que um limpa-vidros não é propriamente o Corinne de Farme lá do sítio. Eu que só tinha pousado a pistola para atender o telefone e vender um carro.
Voei para a banheira com o bicho a arder num qualquer amoníaco. Não voltei a atender o telefone e fiquei-me pelo primeiro pretendente. Sold!