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Desejos para 2014?! No plano pessoal, tenho três, muito simples, mas nem sempre fáceis de cumprir:
- Saúde para mim e para os que me rodeiam;
- Que o Luís mantenha o emprego ou ganhe outro melhor;
- Conseguirmos dormir seis horas seguidas.
No plano nacional, tenho apenas dois:
- Que as pessoas percebam que juntas e a apoiar-se são muito mais fortes, tornando a solidariedade humana, social, uma prioridade;
- Que os cargos políticos deixem de ser o privilégio de uma elite e passem a ser um emprego normal com:
- horário de entrada;
- 22 dias de férias (nem mais nem menos, sujeitos a serem reduzidos conforme a assiduidade);
- corte total nas ajudas de custo, carros, motoristas, telemóveis;
- proibição de engravidar, sob pena de ser dispensada na próxima remodelação do governo;
- reforma aos 66 anos;
- trabalho em open space (partilhar impressoras, casas de banho e queixas sobre o marido e a sogra);
- objectivos trimestrais e avaliação da qualidade de atendimento (com recurso ao Cliente Mistério e punição física para quem confunde publicamente “irrevogável” com “birra de miúdo prepotente”);
- salário ajustado à média nacional, com arredondamento à milésima;
- formação contínua e integração numa equipa jovem e dinâmica;
- possibilidade de progressão na carreira desde que aceite ficar com a língua castanha de tanta graxa ou sair todos os dias às oito da noite (esta possibilidade pode ser duplicada se tivermos em comum com o líder a paixão pelo mesmo clube de futebol. A selecção nacional não conta, até a minha mãe torce por ela).
Em todo o caso, um óptimo 2014!!!
- Duarte, sabes qual o número de emergência, se um dia precisares?
- Sim, é o 007.
Ok! Então, se ele depois aparecer, oferece-lhe um martini. Shaken, not stirred.
Não desejo mal a ninguém, e ninguém merece morrer assim, mas quando leio as notícias não posso deixar de concluir que, em 20 anos, nunca “perdoei” Schumacher por ter festejado a sua vitória pessoal no dia em que desaparecia o melhor piloto do mundo, por nunca ter dedicado a corrida ao colega, por ter ousado abrir o champanhe sem verter uma lágrima ou dizer uma palavra à família verde e amarela.
A vida tem pistas onde nem o capacete nos salva.
Não é preciso ter formação jornalística ou ser muito conciso para fazer um balanço de 2013 em poucas palavras:
- Por ano, saem 10 a 12 mil portugueses do país, a maior vaga de emigração dos últimos 50 anos.
-Foi o ano em que Portugal registou o menor número de nascimentos, o que significa que não está a ser feita a renovação das gerações. Destes, 1 em cada 10, nascem antes do tempo.
- A taxa de desemprego está nos 15%, dos quais 45% poderão nunca mais voltar ao mercado de trabalho.
Dizem que a esperança é a última a morrer, mas a verdade é que já estamos a dar-lhe injecções de adrenalina para se aguentar.
Há três anos atrás, neste dia 27, a minha família entregava os papéis para adoptar uma criança. Erámos três e meio (que o cão conta), queríamos ser mais um. Seis meses depois, descobri que estava grávida. Parece que costuma ser assim: anos para engravidar e logo a seguir a pensar em adoptar, emprenha-se!
Testes e mais testes, entrevistas, perguntas com rasteira, visitas a casa. Um ano e meio sem notícias. De repente, um telefonema! Os toques no meu telefone são bandas sonoras (o marido é “O senhor dos anéis” – não sei porquê, foi coisa que nunca me deu - a sogra é “O Padrinho”, a mãe “A Família Adams” and soi on, and soi on). Para o caso em apreço, achei apropriado o tema “The final countdown”.
O telefonema era para saber como estávamos (bem obrigada) e se ainda estávamos interessados em criancinhas (pois… quase a desistir, NÃO É?!). E culminou com uma despedida animadora: “Então até daqui a 18 meses!”.
Vamos recapitular: inscrevi-me, emprenhei, bufei de tão inchada estava, tive a criança, voltei ao trabalho, fui despedida, estive um ano em casa e… nada. Não aconteceu mais nada. Da criança, nem o cheiro. Em três anos, tive um telefonema.
Há-de aparecer, num dia de nevoeiro. É provável que diga: “Olá, eu sou o Sebastião”.
Qual é a pior prenda de Natal que pode entrar na vossa casa??? Para além de meias! Vá, para além de brinquedos sem botão off! Eu digo: é uma viola! Ponham esse instrumento nas mãos de uma criatura de seis anos que acorda às SEIS da manhã, não faz a mais pequena ideia de como se toca, mas tem MUITA vontade!
E quem deu, quem deu??? Os avózinhos! Tomem lá! No mercy!
É assim que começam as cartas que as crianças escrevem à figurinha que protagoniza o natal dos dias que correm. Dias de consumismo, apesar de tudo, e é esse espírito que nos inunda.
À constante pergunta: “O que é que pediste ao Pai Natal?”, o meu filho diz:
- saber ler
- ter um carro telecomandado
- e um robot ajudante.
Os comentários vão sempre para o carro, que é um pedido típico de rapaz, e para o robot que, não sendo comum, é explicável pelo grau de preguiça que o bicho tem.
Nunca é feito um comentário ao desejo natalício que me parece ser o mais importante e que ele coloca sempre em primeiro lugar: saber ler. É simples, não se compra e é verdadeiramente útil. Mas ninguém lhe liga.
Saímos à noite duas vezes por ano. Às vezes, excedemos completamente e vamos às quatro. É a loucura! Em 365 noites, duas são nossas. Pois é mesmo nessas noites que tudo acontece.
Eles parece que sabem, que cheiram, que fazem figas, eu sei lá, sei lá! Ontem fomos ver os tipos da Rádio Comercial. É a loucura ver a era em que os animadores de rádio se tornam estrelas. Se é bom conhecer os rostos das pessoas que nos põem a rir de manhã, confesso que também gosto da sensação de ignorância. Rádio permite isso mesmo: regar a imaginação.
Mas continuando, que este não era o propósito, o que acontece nessas noites em que decidimos sair é o sistema imunitário dos nossos filhos dar o berro. E ontem foi dia de otite, bronquiolite, febrite, colite, mimite, eu sei lá, sei lá!
Mas, mesmo assim, lá fomos e dançámos, cantámos e rimos com gente talentosa. Acho que sonhei com Palmeirins misturados com ventilans.
Já não falta muito para ficar sem subsídio de desemprego e a esperança de encontrar um trabalho que, simultaneamente, me sustente, me dê prazer e seja minimamente compatível com o horário das crianças, é quase nula.
Hoje fui a uma sessão de esclarecimento sobre formações do IEFP, daquelas para fazer número e justificar o maravilhoso ordenado das doutoras que por lá se passeiam. Não apareceram. É a triste realidade: mandam-me uma carta a dizer que a não comparência dá direito a um tau-tau e à retirada do subsídio, mas as senhoras podem faltar sem consequências. E ainda perguntam porque é que o país chegou onde chegou.
Acabámos por ser atendidos por alguém que claramente não estava habituado a fazer duas coisas ao mesmo tempo (até porque era homem!) e muito menos a lidar com o drama de gente - escolhidos (pareceu-me) segundo o critério das habilitações – que ganhava bem e agora vê-se confrontada com a geração 600.
A maioria eram mulheres, mais de metade em casa com filhos com menos de 2 anos. Uma delas ousou mesmo levar a criatura de seis meses para a sessão. Quem já teve que falar para uma plateia, ao som de gugu-dádás?
Aprendemos que devemos estar disponíveis para ter formação das 8 da manhã às 8 da noite. Se temos carro, boleia, transportes compatíveis, escolas abertas de madrugada, pouco importa.
Alguém me perguntou um dia, e hoje voltei a cheirar a insinuação no ar,: “A criancinha não tem avós?!”. Até tem, mas não são eles que têm a obrigação de assegurar a sua entrega e recolha no depósito de bebés.
É por estas e por outras que hoje em dia temos filhos quase com idade para sermos avós e que a taxa de natalidade faz vôos picados. Daqui a 15 anos, vamos começar a pagar a factura.
Este mês – que se diz de Natal – foi um mês de grande descoberta para mim. Descobri que consigo fabricar prendas, o que para mim - que tive sempre negativa a trabalhos manuais - é mais do que um êxito, é um mesmo grande acontecimento.
Este entusiasmo pegou-se ao meu filho que, não se conseguindo concentrar em nenhuma tarefa, viu nas lides artísticas uma boa maneira de se divertir e aprender.
Este mês serviu também para aprender mais sobre pais e filhos e os espíritos santos, que são os terceiros que nos inquietam com as suas ideias sobre a melhor maneira de educar os filhos.
Libertem-se de preconceitos e frases feitas. As crianças não são tudo o que os pais querem que sejam, nem fruto apenas dos seus ensinamentos e educação. Há características genéticas que potenciam comportamentos. E por muito que queiramos, por muitos sermões que lhes passemos, por muitas regras a que os obriguemos, eles não vão fazer tudo igual aos outros.
Também me parece muito lógico que cada criança é única e deve ser tratada como tal. A sociedade cria padrões e metas que todos devem atingir, mas, na verdade, a escola e a família deviam olhar com alegria para a diferença e evitar a educação em rancho. O que funciona com um, pode não ser o melhor para o outro. Mudando as agulhas, estaríamos a criar seres mais autónomos, confiantes e felizes. Melhores crianças para o mundo, em vez de um mundo melhor para as crianças.