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Dia não. Porque nem todos os dias são de sim. Isto de estar em casa a ver passar comboios tem altos e baixos. Há dias em que achamos que é óptimo estar em casa e que vale a pena esperar pela oportunidade certa. Outros há que nos achamos uns inúteis. Se calhar não estamos a dar os passos certos ou não temos um rumo suficientemente definido. Se calhar, daqui a dois anos estamos aqui mesmo, a resmungar com a vida, que tantas vezes é surda e arrogante.
Quando tinha cinco anos, o sonho da minha vida era ser reformada. Nada de enfermeira, médica, professora ou bailarina. Reformada. Isto é, disponível para passear, almoçar fora, conversar sem pressas e ter dinheiro ao fim do mês. Ainda que pouco. Os meus pais andavam preocupados. Primeiro com a minha escolha, muito pouco comum para a idade, depois com a minha de falta de ambição.
Não era assim tão fora do normal, se eu contar que passava o dia em casa de dois reformados. Conversas sobre o custo de vida era coisa corriqueira, com a expressão “tudo pela hora da morte” a liderar o ranking das mais votadas. E a falta de ambição não era mais do que gostar de viver sem pressas. Mais ou menos como a diferença entre comer à bruta e degustar.
Mas acho que até os meus filhos andam fartos de mim. Eu estou tão presente que quando o pai chega eles fazem a festa, mandam os foguetes e não arrumam as canas. Cada vez que o pai cozinha é o delírio. A comida dele é sempre a melhor. Querem imitar o pai em tudo. Eu, que piloto o fogão todos os dias e lhes tiro o surro da pele, fico em segundo plano. Em tudo. Assim, de repente, só me apetece gritar: QUERO UMA MIÚDA CÁ EM CASA!