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Também eu ando numa fase em que parece que só me consigo entender com desempregados ou pessoas que já passaram pelo mesmo drama. O drama, o horror. Até já arranjei “amigos” virtuais que se identificam com o que escrevo. Porquê? Porque vivem na dúvida, na incerteza, na míngua de um trabalho milagrosamente melhor pago do que o ordenado mínimo. Porque se insurgem contra a hipocrisia do mundo profissional, com a maquilhagem do mercado de trabalho, onde o marketing do cv é rei. O pacote é bem mais atractivo do que o conteúdo. O pacote tem que ser bem vendido senão ninguém o compra, mesmo que seja bom. Viva o cv criativo. Já pensei em fazer uma BD do meu cv, mas achei que seria enfadonha tendo em conta que trabalhava num banco…
Para um certo tipo de pessoas, isto não é normal e, sobretudo, muito difícil de aceitar. Somos assim: gente estúpida, com mão e pé na consciência. Não vamos a lado nenhum. Nunca fomos. Se calhar por isso mesmo é que chegámos aqui.
Já cheguei ao ponto de confessar, alto e bom som, que não estou a trabalhar porque não quero. Soei como um coala a espreguiçar-se num tronco. É, provavelmente assim que muita gente me vê. Faço o que sempre fiz. O que sempre me levou à ruína: borrifo-me para eles todos.
Quero ter o privilégio de escolher minimamente o que quero fazer. Caramba, se tive uma trégua em 14 anos, então mal seria se não parasse para pensar no rumo que quero dar à vidinha. Há 15 anos, fui trabalhar para a Banca porque o jornalismo que fazia não era pago. Eram estágios atrás de estágios, atrás de estágios. Maravilhosas experiências que eu pagava para ter: Expo98 com press card ao pescoço, assistir de camarote aos treinos do Sporting, entrar em directo na rádio a cobrir uma manifestação de camionistas, ir em reportagem o dia inteiro. Quando achei que a escravatura tinha acabado, enfiei-me num bunker, para só voltar a ver a luz do dia em 2012. São decisões que se tomam que mudam a nossa vida.
Eu, que até acho que me expresso razoavelmente bem, não consigo fazer chegar o meu pensamento a muita boa gente. Só a quem já percorreu este trilho, com altos e baixos. Mais baixos do que altos, fazendo-nos sentir quase bipolares: uns dias em pasmo total e deleite pela vida, outros em depressão de arrancar cabelos.
Mexemos muitos mais músculos da cara quando nos chateamos do que quando sorrimos. Portanto, smile!