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“Tem uma mensagem nova”… Fui ver. Era o desemprego. “Bolas, agora vem por e-mail?”, perguntei surpreendida.
“Ah, pois, e não vir por uma rede social e seres obrigada a “botar” um Like, já tens muita sorte!”, diz a Almeida.
Foi assim que soube que ia ficar sem emprego. Eu e umas boas centenas de “alguéns”. Catorze, dezassete, vinte, trinta anos de trabalho, fiel ao mesmo empregador. Recebe-se uma mensagem por e-mail e já está: “deixou de haver lugar para si”.
Durante uma semana, evita-se olhar para a caixa de e-mail, não fosse o diabo tecê-las. Mas nesta história o diabo tem nome, cara e responsabilidade. Já as centenas de “alguéns” são anónimas, gente sem rosto, marcadas com um número (esse sim único!). Gente com família, com contas para pagar, com futuros pensados e sonhos acalentados.
Ora, se as pessoas fossem números, não lhes chamávamos “pessoas”. Mas há sempre alguém disposto, em troca de uns tostões, a esquecer tudo o que aprendeu na faculdade para aplicar o que pode facilmente aprender lendo um dos livros de J K Rowling: transformar as pessoas em números.
Mas aqui vamos humanizá-los, dar-lhes alguma vida. E porque não gosto de números, mas de palavras e gentes, arrisco-me apenas numa estatística: a maioria dos “alguéns” são mulheres, com filhos: a divorciada com três filhos, a casada com o marido desempregado, a mulher do que ainda lá trabalha, a que pariu há menos de um ano.
Gente que, ao fim de décadas, vai começar de novo, não do zero, porque carrega às costas experiência (de produzir mesmo sem recompensa, experiência de sorrir quando não tem vontade, de levar o filho à escola com febre para evitar falatório).
Este fechar de porta será um abrir de janela, uma janela de oportunidade. Reflectir sobre o que se fez e o que se quer fazer, o que se foi e se queremos realmente continuar a ser.
Agora vou fazer parte da estatística, agora vou ser uma das muitas preguiçosas, como lhe chama o Governo, que não trabalha porque não quer. Coitadinho do Crocodilo.