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coitadinhodocrocodilo


Quinta-feira, 07.11.13

O dia da mudança

Sete de Novembro de 2012, dez da manhã. O computador dá-me o sinal. Chegava o mail que mudaria para sempre a minha vida, a minha percepção da sociedade, da crise, do mundo do trabalho.

Ficar sem trabalho não é o fim do mundo, é o fim de um ciclo. Pior é sair do mundo do trabalho com um pontapé no traseiro ao invés de um abraço de agradecimento pelos anos de dedicação; ao invés de um desejo de boa sorte e melhor vida.

Einstein dizia que quem sobrevive não é o mais forte nem o mais inteligente, mas aquele que melhor se adaptar às mudanças.

Eu sempre me tive em muito boa conta!

 

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por coitadinhodocrocodilo às 09:00

Sexta-feira, 11.10.13

Um tablet

Lá estou eu a percorrer anúncios, porque é verdadeiramente para isso que me pagam. Parei ao dar de caras com uma oferta que anunciava como contrapartida um “package atractivo”. Tive uma vertigem e fiquei-me por aqui.

A esta altura do meu campeonato, já não tenho esperança de arranjar emprego. E digo isto sem qualquer demagogia, nem pena de mim própria. Há vários motivos que contribuem para isso, a maior parte incompreendida por quem nunca esteve desempregado. Mas, essencialmente, porque me apavora a ideia de passar 9/10 horas fechada num escritório com gente ambiciosa, chegar a casa, descarregar as minhas frustrações em quem mais me apoia e chegar ao fim do mês e ver um ordenado com três dígitos (a começar por um seis).

Decidi que quero investir em mim e na minha qualidade de vida. Decidi que quero comprar um TABLET. Um tablet é o passaporte para o sucesso profissional. Qualquer comerciante  - que hoje em dia se (auto) intitula “empresário”, um sócio-gerente de qualquer coisa, um manager (como eu adoro esta palavra! Me encanta, pronto!), - tem um tablet. Pronto, quero um. Acredito cegamente que, a partir daí, o meu sucesso profissional vai desabar sobre mim, de tal maneira que não me vai caber um chícharo no dito cujo.

Vou ter um tablet e ser manager. Nos tempos que correm, há que inovar: primeiro, o carro, depois os bois.

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por coitadinhodocrocodilo às 12:22

Segunda-feira, 16.09.13

Primeiro dia

Primeiro dia de aulas. O primeiro dia dos próximos 12 ou 16 anos que tem pela frente, sempre a partir pestanas e retinas e neurónios.

Eu continuo nas boxes a dar assistências aos pilotos. É cada vez mais difícil, já só restam uns meses de subsídio e não há porto à vista nesta regata de volta ao mundo do desemprego em 500 dias.

Continuo extremamente positiva porque a ideia de voltar a trabalhar 9 ou 10 horas por dia, de ser espancada psicologicamente e olhada de lado, por um ordenado de agricultora, em nada me seduz (mais valia tomar conta de memés. Ao menos, punha a leitura em dia). Mas a ideia de não ser útil a mais ninguém a não ser à minha família, também não.

O meu filho começa a sua grande epopeia hoje. Eu, se calhar, estou prestes a começar outra.

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por coitadinhodocrocodilo às 09:25

Quarta-feira, 28.08.13

Verdades inabaláveis

Acredito em fortes convicções e há uma lista delas que considero verdades inabaláveis. Uma delas é o facto de a produtividade nos empregos ser inversamente proporcional ao salário que se aufere. Isto é, quanto mais ganhamos, menos trabalhamos. É certo e sabido. Mais ainda: uma pessoa a quem se corte no ordenado e regalias e ainda se aumente o horário de trabalho, é o que se chama uma criatura realizada profissionalmente.

Nesse sentido, não estranhei as decisões de baixar salários e de aumentar as horas de trabalho semanais aos funcionários públicos. Também me pareceu justo, já que os privados praticam estes horários há décadas. E toda a gente sabe que no sector privado a felicidade está no ar, há imensa produtividade e uma vontade louca de ver o ordenado baixar consideravelmente.

Assim, é óbvio que, a partir de agora, os trabalhadores vão ficar muito mais felizes e trabalhar com muito mais afinco. É uma espécie de verdade pavloviana: acena-se com um corte no ordenado e saliva-se produtividade. Para mim, é tudo muito lógico. Alguém tem que produzir para compensar a cambada de desempregados que anda por aí a espojar-se nas areias das praias de Portugal.

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por coitadinhodocrocodilo às 23:01

Quinta-feira, 08.08.13

Para mim, é um manager, fá xa vôr!

Vamos lá abrir a net e folhear as páginas da empregabilidade. Ora… Precisa-se tubista com viatura própria e experiência. Não sei o que é, mas deve assentar algures entre um instrumentista e um serralheiro. Não me ofereço porque é preciso experiência para este métier et je n’ai pas (Fui ver a Gaiola Dourada. Nota-se?).

Copywriter com conhecimentos em nutrição”. Porque é que não pedem antes um Customer Care Assistant com conhecimentos de SharePoint 2010?! Next!

Training Manager. Parece-me bem! Também não sei o que é, mas qualquer coisa que tenha manager atrelado, é sempre porreiro! Vamos ver o que pedem: orientação para o Cliente. Confere. Experiência no atendimento ao Cliente. Confere. Forte capacidade de comunicação, negociação e gestão de conflitos. Confere. (Queres ver que é desta que sou manager?! ). Capacidade de gestão de equipas em Contact Center. Confere. (Bom, não geri, mas vi gerir, que é quase igual.) Excelente domínio das ferramentas informáticas. (Mau…). Desenvolvimento de avaliações relacionadas com os KPI. (Pronto, já fui!).

Formador em Igualdade de Género. Ora, isto é a minha cara. Parece-me limpinho, direitinho. Eu consigo, yes, I can! O quê? É preciso diploma?!?! Diploma para dissertar sobre “Igualdade de Género”. A sério?

Blá, blá, blá, unhas de gel… (Também é preciso diploma?!), blá, blá, Mestre Gelateiro. Hum, interessa-me. Ok, mais de 30 anos. Check. Criatividade, pro-actividade. Check. Disponível para aprender. Check. Conhecimentos na área da pastelaria. Estava-se mesmo a ver, não?! Também querem diploma pela Universidade de Gelados de Porto Fino?! Não pode ser antes Ice Cream Taster Top Manager?

Agente de Seguros Remunerado (??? Esta nem vou comentar).

Ok… next. Business Manager. Lá está, gosto do manager… Pedem Grego. Account Manager. Estou que nem posso! Pedem fluente em hebraico. Nã… família tuga, com um avô que deve ter feito muitos filhos em Espanha e uma bisavó “bifa”, quiçá herdeira de um castelo daqueles à Harry Potter e não disse nada. Vou “checkar”!

Desisto. Vá, a última. Tratador de Ovinos. Olhem, que já estive mais longe. Hum… oferecem salário (toma, este também é remunerado!), casa e luz e água. É pá, isto é bom. Não pedem diploma, nem experiência (se bem que eu já lidei com muita cabra), nem limite de idade, nem pro-actividade, nem espírito de equipa, nem dinamismo. Acho que vou pensar.

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por coitadinhodocrocodilo às 19:02

Segunda-feira, 29.07.13

Desempregadamente

Desconfiança dos mercados, cortes até 2014. Os jovens são (quase) obrigados a escolher um curso com alguma saída e renunciar à vocação e ao sonho. Os presos preferem renunciar à liberdade do que serem largados na selva do défice e da crise. O abandono e a exclusão social são uma realidade chocante, salários compatíveis com a exigência da vida são uma realidade virtual. Isto é o chamado “mundo ao contrário”.

Cada português vai ganhar menos 800 euros este ano. Para o ano, logo se vê. Para o ano, não sabemos sequer se ganhamos alguma coisa. É difícil imaginar. Tanta gente que me diz que o desemprego pode acontecer a qualquer pessoa. Talvez o digam só para me consolar e na realidade pensem que só acontece a quem se põe a jeito. É a arrogância do ego que tem vergonha de gritar. Mas ninguém se põe nos meus sapatos, porque nunca damos realmente valor ao sofrimento dos outros a não ser quando passamos por algo semelhante.

A desempregada. Podia ser a fanhosa, a maneta, a badocha, a emproada. Mas sou a desempregada. Gosto de pensar nesta palavra como um advérbio de modo: – Como estás? - Estou bem, desempregadamente bem.

- Olá, então o que é tens feito? - Tenho procurado desempregadamente trabalho. É isso! Não me sento no sofá o dia inteiro, se é isso que querem realmente saber quando perguntam o que tenho feito. Vou trabalhando desempregadamente em casa. Chega-vos?

Agora estou oficial e desempregadamente de férias, porque nada sucede em Julho e Agosto. Nem o governo cai, nem a Fanny posa nua, nem a Merkle morre, nem ninguém contrata ninguém e muito menos alguém quer ser contratado a meio de umas férias caturras. Temos que ser desempregadamente convenientes.

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por coitadinhodocrocodilo às 09:33

Terça-feira, 16.07.13

'Tou...

Lembro-me da colecção de “’Tou’s” que saía nos bolicaos quando erámos adolescentes. Enchia os dossiers com aquilo. A minha vida era um “’’tou”: tou triste, tou bah, tou a rebentar.

A expressão “’tou de férias” quando se está desempregada parece não fazer sentido, mas na realidade faz. ‘Tou de férias de ver anúncios, ‘tou de férias de mandar cvs, de inventar cartas de apresentação que digam maravilhas sobre a minha pessoa e que descrevam de tal modo o meu entusiasmo em ir trabalhar para aquela empresa, que o gajo que abrir o email estremece de emoção.

Bom, estive de férias. Agora já não ‘tou. E recomeçam os carimbos, os e-mails, os anúncios que dão para rir e chorar ao mesmo tempo, os choradinhos aos amigos e conhecidos (Se souberes de alguma coisa…), as tentativas de cunha (NÃO ME FALEM EM NETWORKING!!!) em instituições conhecidas. Às vezes sinto-me um caracol a arrastar-me no meio de um deserto interminável. ‘Tou bah.

Ninguém se digna a responder. Curiosamente, o único e-mail que recebi a agradecer a minha candidatura foi uma que entreguei em mãos. ‘Tou furiosa.

Ninguém, que eu conheça em situação semelhante, conseguiu, até agora, novo emprego. Só quem decidiu – e em muito boa hora – abrir um negócio, lançar-se por conta própria. É a saída ao fundo do túnel. Sempre foi esta a minha ideia: ou tens jeito para alguma coisa e aproveitas esse dom para mudares de vida ou ficas à mercê da sorte. Sim, porque não é preciso talento, é preciso sorte. Talento só é necessário para te saberes vender. O resto, é estares no sítio certo à hora exacta, teres “bons” padrinhos e um empurrãozinho nas costas. ‘Tou numa de cunhas!

 

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por coitadinhodocrocodilo às 09:21

Segunda-feira, 24.06.13

A madrinha dos traumas

Perder o emprego é considerado, por vários estudos, como um dos maiores traumas a que alguém pode estar sujeito, só superado pela morte de um ente querido. Se bem que é uma pancada das grandes – a qual paralisa muita gente durante muitos meses - acho, ainda assim, que existem traumas bem piores. O abuso sexual e a violência doméstica são bons exemplos. Ser portador de uma doença rara ou assistir à luta sem trégua contra uma doença, de alguém que gostamos muito, também me parece mais traumático. Tudo isto me parece muito pior do que o desemprego.

Mas perder o emprego pode levar rapidamente à falta de dinheiro, à fome, à desestruturação de uma família, ao abandono social, à criação de dependências, à depressão e, mesmo, ao suicídio. Mas... analisando bem, as outras situações também.

A diferença parece chamar-se “vergonha social”. Ainda perdura a vergonha de nos assumirmos  como um sem-abrigo profissional. A vergonha de alguém pensar que não eramos imprescindíveis. A vergonha de sermos inúteis à sociedade e um fardo para o país.

Continuamos a usar eufemismos como “estou à procura de um novo desafio” ou “estou numa fase de transição”. Não! NESTE MOMENTO, NÃO TENHO EMPREGO. Significa que algum dia terei. Também não sou inútil à sociedade. Ajudo pessoas todas as semanas, ajudo a minha família a ser unida e feliz, ajudo a educar dois futuros contribuintes e sou útil numa instituição qualquer, com a qual ainda não esbarrei. Sou um fardo hoje e uma ajuda amanhã. Vergonha? Vergonha é não fazermos o nosso melhor. Até no desemprego.

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por coitadinhodocrocodilo às 23:55

Quarta-feira, 19.06.13

Umbigos!

Não tarda, um quarto da população activa portuguesa está sem emprego. Ainda assim, continuo a ouvir na rua que não trabalha quem não quer, que a crise é só para quem é preguiçoso. Pergunto-me o que fará a pessoa, que família e amigos tão especiais tem, que não conhece quem esteja desempregado. Pergunto-me que maravilhoso poder tem para conseguir ler a mente do seu chefe e ter a certeza que ele não conspira contra si.

Quase a invejo, não fosse o facto de ser estúpida, arrogante e com grande dificuldade em olhar à sua volta. O seu umbigo deve ser enorme. Há umbigos assim, nunca caiem, continuam ali pendurados, esticados, enormes e malcheirosos.

Transformo-me por segundos. Viro bicho, incho de ódio, qual peixe-balão. Mas vale a pena? Não! A vida encarregar-se-á de lhe dar uma lição. Eu nunca tive jeito nem paciência para ser professora. Ou isso, ou um dia morde a língua e morre.

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por coitadinhodocrocodilo às 19:44

Sexta-feira, 07.06.13

Cenas da vida de um crocodilo

Recebi uma carta a solicitar a minha comparência no mesmo sítio onde obrigatoriamente de quinze em dias vou mendigar um carimbo, para minha sobrevivência.

Parece que a minha falta de comparência implica o incumprimento do dever de comparência, previsto na alínea G) do nº 1 do artigo 41º do Decreto-Lei nº 220/2006 de 3 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 72/2010, de 18 de Junho e pelo Decreto-Lei nº 64/2012, de 15 de Março.

A minha falta de comparência não justificada, de acordo com o disposto na alínea h) do nº 1 do artigo 49º e do c) do nº 1 do artigo 54º do Decreto-Lei nº 220/2006, de 3 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 72/2010, de 18 de Junho e pelo Decreto-Lei nº 64/2012, de 15 de Março, representa uma actuação injustificada.

Com menos conversa, já tinha ido e voltado! É só uma sessão de esclarecimento, bolas. Se tivessem pedido nicely, eu ia na mesma, com mais vontade ainda.

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por coitadinhodocrocodilo às 17:57


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