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Se tudo tivesse corrido bem, esta semana estaria a esquiar em Andorra. Há dois anos não fui porque o Miguel nasceu. No ano passado ainda estava em choque por ter ido para o olho da rua.
Quis o destino, ou os astros ou os senhores da natureza, os deuses ou o deus sozinho, que estivesse em Portugal para receber uma notificação do Centro de Emprego. SURPRESA! Formação para aprender a mudar fraldas a idosos e… vai começar… AGORA!
Se estivesse em Andorra, teria ficado sem subsídio e sem inscrição no CE. A única semana do ano em que não estaria cá.
Começa a ser fácil perceber como e porquê oscila a taxa de desemprego em Portugal: há o desemprego sazonal (onde os algarvios são mestres), há os maravilhosos contratos com o apoio do IEFP que permitem às empresas contratar um sem número de pessoas durante seis ou doze meses, que depois são dispensados e substituídos por outros. Enquanto vão e voltam, saem das estatísticas.
Depois existem as manobras desprezíveis do IEFP, como esta, de mandar uma carta com 1 ou 2 dias de antecedência para se apresentar nalgum lado, sob pena de ficar sem sustento.
As ofertas formativas são inadequadas ao nível de desemprego e ao tipo de desempregado que circula por aí – que vai do 6º ano de escolaridade ao mestrado – e datam dos anos 90.
E não vamos falar da emigração. Por cada jovem que sai do país, é menos um número que entra no gráfico.
A partir de Segunda-feira, vou aprender a tratar de velhos com um grupo de pessoas que, como eu, estão ali contrariadas, com vontade de desistir e mandar o CE às urtigas. Mas não mandamos, porque é exactamente isso o que eles querem, para ver se saímos das estatísticas.
Ser um país maioritariamente católico condenou-nos a sermos gente sofredora, pessimista e queixosa. O problema vem acompanhado de uma sombra maior que ele próprio e só com muito esforço vislumbramos a luz da solução.
Não raras vezes, a solução está ao lado, mas, qual personagem de uma fábula, está coberta por um manto, e só visível a quem se esvaziar de preconceitos.
Durante muito tempo, a minha impulsividade, verbal e física, foi um problema. Neste último ano, fiz uma depuração de sentimentos, uma lavagem de ideias e comecei a escrever um novo capítulo de espontaneidade, sem culpas.
Se as qualidades não chegam, a solução está ao lado: nos defeitos. Aprendi que não sou um modelo de virtudes para os meus filhos, mas assumir os meus defeitos e incapacidades e transformá-los é uma maior lição de vida do que exaltar qualquer qualidade que eu tenha.
Philomena é um filme que nos revolve as entranhas. É espectacular como a aparente simplicidade da interpretação dá lugar a uma tremenda profundidade emocional e cria em nós uma empatia pegajosa. Fez-me não conseguir parar de chorar. Acho que há uma primeira vez para tudo.
Ou ando muito lamechas ou a Judi Dench ganha o Óscar. Ou ambas as duas!
Há, pelo menos, duas coisas que podíamos tentar melhorar no ser humano no decorrer da primeira idade: o volume e o sentido de oportunidade (não, não vou falar de sono, mas já agora digo que desde que o pai voltou, o crianço deixou de dormir…).
Podíamos criar um ajustador de volume com bass e treble incluídos e possibilidade de mute, concedendo-lhes a caridade de continuar a desenvolver o raciocínio sem os escutarmos;
Podíamos desenvolver um neurotransmissor que permitisse ao cérebro tocar a sirene do chichi APENAS quando a córnea visualiza uma casa de banho;
Podíamos criar um back-up do sistema imunitário para que, em caso de falha, nunca ficássemos pendurados quando queremos sair de casa ou gozar umas férias descansados;
Podíamos inventar um filtro, semelhante ao do café, para as palavras e entusiasmos frásicos, evitando a consequente vergonha que nos fazem passar;
Podíamos escrever um manual de instruções, com os passo-a-passo acessíveis a qualquer idade e sexo (eu sei, seria difícil!), com desenhos, bonecos 3D, FAQs, kit promocional de primeira cria e workshops sobre “Como atingir a centena de decibéis sem ficar rouco", seguido de “Como atingir a centena de decibéis sem mostrar sinais de fraqueza”.
Mas isso seria modelar a vida e, felizmente, não o conseguimos fazer. As surpresas e os imprevistos estão para a nossa vida, como as rugas estão para o nosso rosto, são as histórias que temos para contar.
Entrei na escola, nervosa com o que me esperava. Dou a designação de escola a quatro contentores enterrados há mais de seis anos no meio de outra escola, com a promessa de ser provisório. Para ir à casa de banho, leva-se papel higiénico e anda-se à chuva. Não há qualquer entretém no recreio.
Entrei nas aulas com a sensação de ressacar de uma intravenosa adrenalínica. Saí com o aspecto de um zombie esfomeado. Entrei na aula seguinte a germinar ideias ditatoriais.
- Professora? Professora?
É comigo? É COMIGO!
- Não, eu não sou professora, sou a Patrícia e está a parecer que me enganei no planeta!
Atingi decibéis inacreditáveis, mas sobrevivi a uma estreia, acho que muito graças ao treino diário e intensivo com um filho hiperactivo.
É um gosto ouvir Jorge Jesus falar. É efectivamente das coisas que mais me diverte na televisão. Mas tem que ser em directo, claro. Os cortes e montagens jornalísticas, muito embora lhe colem um sentido e simulem coerência, tiram-lhe autenticidade e a sua principal função: divertir um público sequioso, como eu, de assistir a um jogo de semântica vs sintaxe (com especial enfoque para a predicação verbal), acompanhado de um frequente mascar.
“Arranca o sujeito com a bola… passa ao predicativo do sujeito… É falta do sujeito indeterminado! Este árbitro deixou os cartões em casa!
Contra-ataca o pronome substantivo indefinido… dá para concordância nominal... que remataaaa! Falhou a concordância nominal. Como é que é possível, à boca da baliza!!!
Pontapé de baliza para a concordância verbal. Também não está fácil… segue o verbo transitivo… desorganização no meio campo dos pronomes! Os jornalistas estão tontos com o drible frásico!
Atenção! A pastilha elástica está isolada, pode marcar, pode ser o primeiro golo de hoje…. eee…. GGOOOOLLLOOOOO!!!! GOOLLOOO da pastilha elástica!!!”
Escutei na Rádio que esta é considerada “a pior semana do ano”. Se sobrevivermos com distinção, o ano augura-se jeitoso. Eu acho que é uma questão psicológica: se o ano começar bem nos primeiros dias, avançamos com confiança para os restantes.
Brindei ao novo ano com convicção, expectativa e ansiedade. Sei que nunca tive tantas ideias e tanta vontade de realizar projectos. Cresce a vontade de contrariar a crise, fazer-lhe caretas e virar-lhe as costas com desprezo.
Esta foi a pior semana do ano e eu passei com distinção. Até consegui dormi uma noite inteira! Drunfei o miúdo, mas dormi.
Há três anos atrás, neste dia 27, a minha família entregava os papéis para adoptar uma criança. Erámos três e meio (que o cão conta), queríamos ser mais um. Seis meses depois, descobri que estava grávida. Parece que costuma ser assim: anos para engravidar e logo a seguir a pensar em adoptar, emprenha-se!
Testes e mais testes, entrevistas, perguntas com rasteira, visitas a casa. Um ano e meio sem notícias. De repente, um telefonema! Os toques no meu telefone são bandas sonoras (o marido é “O senhor dos anéis” – não sei porquê, foi coisa que nunca me deu - a sogra é “O Padrinho”, a mãe “A Família Adams” and soi on, and soi on). Para o caso em apreço, achei apropriado o tema “The final countdown”.
O telefonema era para saber como estávamos (bem obrigada) e se ainda estávamos interessados em criancinhas (pois… quase a desistir, NÃO É?!). E culminou com uma despedida animadora: “Então até daqui a 18 meses!”.
Vamos recapitular: inscrevi-me, emprenhei, bufei de tão inchada estava, tive a criança, voltei ao trabalho, fui despedida, estive um ano em casa e… nada. Não aconteceu mais nada. Da criança, nem o cheiro. Em três anos, tive um telefonema.
Há-de aparecer, num dia de nevoeiro. É provável que diga: “Olá, eu sou o Sebastião”.
Saímos à noite duas vezes por ano. Às vezes, excedemos completamente e vamos às quatro. É a loucura! Em 365 noites, duas são nossas. Pois é mesmo nessas noites que tudo acontece.
Eles parece que sabem, que cheiram, que fazem figas, eu sei lá, sei lá! Ontem fomos ver os tipos da Rádio Comercial. É a loucura ver a era em que os animadores de rádio se tornam estrelas. Se é bom conhecer os rostos das pessoas que nos põem a rir de manhã, confesso que também gosto da sensação de ignorância. Rádio permite isso mesmo: regar a imaginação.
Mas continuando, que este não era o propósito, o que acontece nessas noites em que decidimos sair é o sistema imunitário dos nossos filhos dar o berro. E ontem foi dia de otite, bronquiolite, febrite, colite, mimite, eu sei lá, sei lá!
Mas, mesmo assim, lá fomos e dançámos, cantámos e rimos com gente talentosa. Acho que sonhei com Palmeirins misturados com ventilans.
Este mês – que se diz de Natal – foi um mês de grande descoberta para mim. Descobri que consigo fabricar prendas, o que para mim - que tive sempre negativa a trabalhos manuais - é mais do que um êxito, é um mesmo grande acontecimento.
Este entusiasmo pegou-se ao meu filho que, não se conseguindo concentrar em nenhuma tarefa, viu nas lides artísticas uma boa maneira de se divertir e aprender.
Este mês serviu também para aprender mais sobre pais e filhos e os espíritos santos, que são os terceiros que nos inquietam com as suas ideias sobre a melhor maneira de educar os filhos.
Libertem-se de preconceitos e frases feitas. As crianças não são tudo o que os pais querem que sejam, nem fruto apenas dos seus ensinamentos e educação. Há características genéticas que potenciam comportamentos. E por muito que queiramos, por muitos sermões que lhes passemos, por muitas regras a que os obriguemos, eles não vão fazer tudo igual aos outros.
Também me parece muito lógico que cada criança é única e deve ser tratada como tal. A sociedade cria padrões e metas que todos devem atingir, mas, na verdade, a escola e a família deviam olhar com alegria para a diferença e evitar a educação em rancho. O que funciona com um, pode não ser o melhor para o outro. Mudando as agulhas, estaríamos a criar seres mais autónomos, confiantes e felizes. Melhores crianças para o mundo, em vez de um mundo melhor para as crianças.