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coitadinhodocrocodilo


Quarta-feira, 13.11.13

Scream and shout and let it all out

Todas as semanas assisto ao estrangulamento da classe média. Todas as semanas há mais pessoas sem ajuda social, sem meios de reduzir despesas, sem esperança de encontrar trabalho, seja pela idade ou habilitações (falta ou excesso, há para todos os gostos).

Não há cantinas sociais para a classe média, não há creches para a classe média, não há ajudas financeiras para a classe média. Sejamos novos ou velhos, pouco importa, não há instituições preparadas para lidar com esta crise.

Sempre fomos tratados como números. Toda a nossa vida são números. Esqueceram-se da parte humana, que é isso que somos. Não há um político com emoção no rosto. Em todo o mundo, há um único presidente que se emociona ao ler um discurso. Acho que isto diz muito sobre as pessoas que nos governam, sobre os dirigentes deste planeta, sobre as pessoas que insistem em ignorar a essência que nos faz humanos: a capacidade de sentir e demonstrar emoções.

Não há um médico que chore ao lado do paciente, não há um chefe que abrace o empregado, não há um dirigente que verta uma lágrima pelas consequências dos seus actos. E, se por um acaso, o fizer, é considerado um fraco.

Queremos gente que chore, que grite, que ria sem parar, que abrace, que peça desculpa, que salte de felicidade, sempre que lhe der na gana.

E quando recomeçarmos a ser humanos, talvez consigamos sair desta crise financeira, social e moral.

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por coitadinhodocrocodilo às 23:21

Quarta-feira, 10.04.13

A vida desinspira-nos

A vida tem destas coisas. Abre janelas, fecha portões, entreabre portas. Quando está zangada connosco, permite-nos apenas espreitá-la pelo buraco de uma fechadura. E lá ficamos nós a olhar para a vida que queríamos, por um buraquinho minúsculo. A vida que nos escapou, por entre os dedos.

O voluntariado tem destas coisas. Conhecer histórias de vida muito mais desastrosas do que as nossas. Dar valor aos portões e às janelas, às frestas que nos dão correntes de ar.

R. ficou desempregada. Sorveu o subsídio até ao fim. Quando tudo parecia perdido, arranjou trabalho. E quando achou que a vida lhe sorria novamente, esta virou-lhe as costas com zombaria: R. não tinha dinheiro para ir trabalhar. Recusou o emprego.

Este é o desespero de quem se está a borrifar para o governo, para a troika e para o futuro do país. Às vezes, trabalhar não é só para quem quer. É para quem ainda pode.

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por coitadinhodocrocodilo às 17:47

Terça-feira, 09.04.13

Máquina de lavar o tempo

Ando a ver se consigo perceber onde o governo pretende que este rio de austeridade desague. Não sou versada em economia, mas acho que não é necessário para constatar que este caminho só nos leva para o meio de uma floresta densa e escura, onde os juros são gigantes e a fome é rainha.

Mais de metade dos nossos impostos vão direitinhos para pagar a tão falada dívida pública, quando deviam ser aplicados em hospitais, escolas, cultura, investigação científica. A mão de obra especializada foge do país, empurrada pelo desalento e a falta de futuro. Há mais desempregados e reformados do que população activa.

À minha volta, acumulam-se cantinas sociais, farmácias sociais e feiras sociais. Pessoas como eu e tu, que já comeram garopa e agora comem atum, que já andaram de Audi e agora andam a pé, que deram PSPs aos filhos e agora contam o dinheiro para ver se chega para um happy meal: refeição e brinquedo num só.

Ando curiosa para saber como estaremos daqui por 5 anos. Haverá medicamentos nas farmácias? Andaremos à porrada por uma palete de leite? Teremos ainda dinheiro para comer peixe? Teremos senhas para rações diárias? Transformaremos os jardins em hortas comunitárias? Para quando o regresso dos balneários públicos? Voltaremos a ter as mulheres em casa a cuidar dos filhos? Qual será a taxa de abandono escolar?

Queria ter uma máquina de lavar o tempo. Uma máquina que me permitisse lavar os governos dos últimos 20 anos a 60 graus, centrifugá-los a 800 rotações e pendurá-los no arame pelos tomates, sempre que tomassem uma decisão que não fosse pelo bem da RES PUBLICA.

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por coitadinhodocrocodilo às 12:47

Sábado, 06.04.13

Larguem a higiene!

Andávamos a roubar acima das nossas necessidades. Foi esta a conclusão a que cheguei. A comida é actualmente o segundo bem mais roubado em supermercados. Os bens relativos à higiene lideram há muito tempo. Antigamente, quando eramos todos ricos, com ares de pseudo-pobres, roubavam-se chocolates, bebidas, aparelhos e gilletes. Agora, roubamos para comer.

A comida passou a ser um luxo, sim, mas a higiene bate tudo. O gel de banho, o shampoo, a pasta de dentes, o papel higiénico, têm o IVA taxado a 23%. Portanto, lavar o cabelo, os dentes ou limpar o rabo é um luxo. Já beber coca-cola ou comer danoninhos faz parte do essencial do nosso dia-a-dia.

Comer queijo é mais barato do que comer fiambre. E o raio do porco que é taxado de diferentes maneiras, conforme se preferimos trincar a perna ou o lombo? Senão vejamos: pelo fiambre extra, da perna, pagamos 23%, mas se quisermos paio, que é da parte do lombo, já pagamos 13%.

Eu diria que as nossas possibilidades andam inversalmente proporcionais às nossas necessidades. Mandemos então às urtigas os artigos de higiene! Está feito: poupamos água, pele e um sem número de utensílios que não têm grande serventia. Há lá melhor do que um PH ao natural! Desodorizante? Não, espalhem suminho de limão. Gel de banho? Substituem por sabonete de glicerina. Shampoo? Nope. Gemada na carola. Dentes lavados? Esfreguem com a casca de uma banana. Tem carradas de potássio. Limpar o rabo? Toalhitas de bebé, têm 6% de IVA e são um 3 em 1: limpam, lavam e perfumam. E para quem tem filhos, ainda estimula a cena da partilha. Pêlos? Há uma coisa chamada pinça. Eu vi algumas pessoas a executar essa tarefa enquanto trabalhavam. É como ouvir rádio enquanto se faz o amor.

E pronto! Assim se poupa, assim se está na moda e assim se garante a sustentabilidade de uma casa, de um bairro, de uma freguesia, de um concelho, de um distrito, de um país. Quiçá, de um planeta.

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por coitadinhodocrocodilo às 22:08


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