Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

coitadinhodocrocodilo


Sexta-feira, 18.01.13

O tudo

Desde que engravidei do Miguel que comecei a reflectir sobre a minha carreira profissional e no sentido, ou da falta dele, que ela levava. Bom, se calhar chamar-lhe carreira é um exagero. Uma carreira profissional pressupõe a evolução em vários sentidos: remuneração, posto e conhecimento. Só posso valorizar a última parte. Efectivamente, ao longo de 14 anos, trabalhei em quatro áreas muito diferentes, que me moldaram enquanto profissional. E como profissional, sou polivalente: faço tudo, aprendo depressa e consigo adaptar-me a todos os cenários. Mas não gostava do que fazia, não me enchia as medidas. Trabalhava por dinheiro.

Esta é a realidade das últimas décadas: trabalha-se por dinheiro. Trabalha-se para sustentar os bens materiais que achamos essenciais à nossa vida, trabalha-se para sustentar hobbies, trabalha-se até tarde, achando que se progride na carreira. Trabalha-se para ter uma casa e uma família, mas nunca é o momento ideal para a construir. Queremos sempre mais e mais e mais. Tornando-nos seres egoístas, consumistas e solitários. Temos só um filho porque lhe queremos dar TUDO. E o que é o TUDO?

A minha nova situação é uma oportunidade para pensar naquilo que gostava de fazer. Mas lá veio a questão do dinheiro. Gosto de escrever, como se vê, mas não me dá dinheiro. Gosto de voluntariado, mas não me dá dinheiro. Gosto de chegar ao final do dia e pensar que fiz a diferença e ajudei alguém, mas não me dá dinheiro. Não falo em dinheiro para um mercedes (nunca tive essa fase), falo em dinheiro para o simples da vida.

Percebi que estou formatada. Há 20 anos atrás formataram-me para um modelo de vida, que aceitei por nunca ninguém me ter mostrado que poderia haver outro. Nunca me tiraram as palas dos olhos e obrigaram a olhar o mundo na sua natural vastidão. Não estou de acordo que se ensine às crianças que podem ser tudo na vida. Há coisas que efectivamente nunca poderão vir a ser. Eu, por exemplo, sou daltónica. Teria muita dificuldade, ou seria mesmo impossível, conseguir ser piloto de aviões. Mas os limites são pequenos e, quando os há, temos que os diminuir ainda mais, sem criar frustrações, mas sem ambição materialista.

Talvez por tudo isto, eu agora passe horas agarrada ao computador, sem conseguir produzir uma linha no meu curriculum. Não tenho inspiração, imaginação e capacidade de introspecção. Fugiram com a rescisão e ainda não consegui encontrar o seu esconderijo.

A principal maneira de educar uma criança não se ensina nos livros. Ela absorve o que vê em casa e um dia reproduz, ou não. Em minha casa, há duas pessoas que nunca fizeram o que gostavam, que trabalharam sempre por dinheiro. Acho que ainda estou a tempo de mostrar aos meus filhos que esta não é a maneira de estar no mundo. O TUDO é mais simples que isso.

 

Amiga, obrigada pelo vídeo.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por coitadinhodocrocodilo às 10:28

Quarta-feira, 09.01.13

Qualidades procuram-se...

Tenho até Segunda-feira para responder a uma série de perguntas que vão definir o meu caminho e ajudar-me a encontrar o meu “eu” mais recôndito. Lembro-me de fazer isso na escola secundária. Os famosos testes para saber que área deveríamos seguir. Nunca os terminei. Num dia, desenhei uma árvore despida e a psicóloga disse que eu era uma pessoa triste. Pronto, quebrou-se a empatia e eu fiquei para todo o sempre na ignorância sobre a orientação a dar ao meu talento.

Desta vez, não quero perder a oportunidade. Tenho que definir as minhas melhores qualidades profissionais: o que faço de melhor e o que acho que me pode vender a um empregador. Tenho que mostrar o que valho em seis segundos, que é a média que uma pessoa que está a contratar fica a olhar para um curriculum vitae.

Mas, infelizmente, em seis segundos, nada me ocorre. Se me pedissem os defeitos, teria já uma lista pronta a disparar. Mas não sou egocêntrica, narcisista, não me sobrevalorizo, tão pouco sou capaz de dizer maravilhas de mim própria. Se calhar, deveria pedir ajuda ao meu antigo chefe. Afinal, era realmente boa em quê??? Em tudo e nada em concreto, por isso te pusemos a andar. Esquece.

Vamos por partes. Sou prática, directa, objectiva e sincera. Nenhum empregador gosta. Ok, tenho que me orientar por outro lado. Sou simpática? Crio empatia? Nem sempre, diz-me o Luís. De facto, não gosto de muita gente, de pessoas “is”: invejosas, intriguistas, injustas, indecisas… Não gosto de pessoas cinzentas, as “nin”… Vejo a vida colorida, como boa daltónica que sou! A minha retina apresenta-me tons desconhecidos para a maioria das pessoas. Sou sobredotada e não defeituosa! Gosto de trabalhar em equipa? Não, gosto de trabalhar sozinha, ao pé de muita gente. É diferente.

Bom, pelo menos sei por onde NÃO começar. Estou perdida e tenho até Segunda-feira para me encontrar.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por coitadinhodocrocodilo às 18:17

Terça-feira, 08.01.13

Flexible

Ontem, alguém me perguntava o que tinha acontecido ao meu filho, que nunca mais chegava a casa! A escola resolveu trazê-lo uma hora mais tarde do que o combinado, sem dar cavaco a ninguém (nos dias que correm, tento fazer pouco uso desta expressão, mas aqui saiu-me e não sou rapariga de fazer delete à espontaneidade). Chegou todo contente, alheio aos meus cabelos quase em pé!

Ontem foi apenas um dos muitos dias maus que se avizinham. Mas a piada é fazer deles uma lição, uma história e arrumá-los na nossa imensa estante da experiência de vida. Portanto, adiante.

Hoje foi um dia diferente. Em vez de desemprego, o tema foi emprego. Fui a uma reunião com a empresa de outplacement, que nos vai acompanhar e, com base em coaching, vai tentar fazer um development na nossa carreira e dar-lhe um pushing. Se queremos estar na moda, e profissionalmente actualizados, temos que falar com termos e designações em inglês. Muito ao estilo cagão, cagam style.

A formação foi teórica, numa altura em que a prática se impõe, o tempo urge e a ansiedade toma conta de nós. Mas foi de tal maneira optimista e entusiasta que levantamos as mãos por alguém nos explicar o conceito de flexible worker, nos ensinarem a valorizar o networking e a fazer currículos irrecusáveis. Saímos de lá, quase gratos por estarmos desempregados!

São assim os formadores e os seus chavões: fazem perguntas para conhecer a assistência, não utilizando depois – sabe-se lá porquê – a informação recolhida; a já gasta máxima “comportamento gera comportamento”; e a insuportável “terapia de grupo” a que somos obrigados, porque alguém achou que é catártico falar, à frente de pessoas que não conhecemos, dos nossos projectos profissionais, medos e ambições.

"Olá, eu sou a Patrícia e já não trabalho numa empresa há dois meses. Há que ser flexible. Agora trabalho em casa, homework."

Autoria e outros dados (tags, etc)

por coitadinhodocrocodilo às 21:08


Mais sobre mim

foto do autor



Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Julho 2014

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031

Posts mais comentados