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Vou para as aulas todos os dias de manhã. Continuam uma seca como há vinte e cinco anos atrás. Continuo a ter grandes dificuldades em manter-me quieta e concentrada. Faço aviões de papel, jogo à forca, jogo no telefone, falo sozinha, falo com o do lado, chamo o da frente, suspiro e quase durmo. As aulas deviam ter meia hora e intervalo, meia hora e intervalo. Penso no meu filho. Como te compreendo!
As aulas continuam monótonas e os professores continuam com a mesma vontade de me expulsar da sala.
Chego a casa e está a dar os Estrunfes e a Abelha Maia. O que mudou?! Ah, agora sou eu que faço o jantar.
Um smartphone é o melhor amigo do homem, da mulher, dos estudantes. Não sei se duraria dois dias nesta formação sem um. Percebo agora os jovens que insistem em levar o telemóvel para a sala de aula. É de extrema necessidade e suma importância!
Lembro-me dos tempos de liceu, sentada na última mesa com a cabeça noutro mundo, a tentar passar despercebida, até as lágrimas de riso me traírem.
É uma seca desde o primeiro ao último minuto. O meu filho em casa, a arder em febre e eu a jogar num telemóvel para passar o tempo, com um barulho de fundo que se assemelha a uma formação, à qual me obrigam a ir e a fingir que gosto. É quase pecado!
Valem-me os poucos jogos que tenho e uma mala grande que esconde o ócio. Valem-me as pessoas que passei a conhecer, com vidas bem mais complicadas do que a minha e recordes difíceis de bater, como ter 24 irmãos. Sim, há uma criatura com mais irmãos do que o total da minha família.
Eu cá, ando a tentar bater o meu recorde pessoal na Sopa de Letras. Estou convicta de que amanhã é O Dia.
Primeiro dia de curso. Chato, ou melhor, chatinho, que a formadora adora “inhos”. Não há pior do que pessoas que falam em “inhos” (a formaçãozinha, está na horinha, vamos ao cafezinho, fazer um chichizinho). Quer dizer, até há: os casais que depois de tornarem pais, se tratam por Pai e Mãe.
Bom, primeiro dia, há sempre alguém quase a adormecer. Eu tento sentar-me ao lado de alguém que tenha cara de quem gosta de jogar à forca, o meu jogo preferido nas formações. Hoje não tive grande sorte. Fiquei-me pelos desenhos rupestres.
Dizem que há aulas práticas. Não consigo imaginar como serão. Nem quero. Deixem-me jogar à forca!