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Na rua, no governo, cá em casa, está tudo a 40 graus. O país arde. Nada de novo. O executivo ferve. Nada de novo. O meu Miguel tem 40 de febre. Nada de novo.
Para quem não ia ter um Verão quente, não está mal. O gaiato que fez a previsão do Verão chuvoso deve ter andado com o Gaspar na escola.
As únicas coisas novas parecem ser que o nº 2 do nosso governo não sabe o significado de “irrevogável” e que vamos ter mais cerveja na Assembleia.
O governo está a “derrocar”. Gasparzinho cansou-se de ser o fantasminha dos portugueses, a Maria levou Paulo a bater com as Portas. Pedro diz que não abandona a toca do Coelho nem dá Passos precipitados. Ninguém dá Cavaco ao Aníbal. Um presidente que não sabe escutar, não merece mais que um nariz vermelho.
Amanhã, a Crista da Assunção empertiga-se e vai de Mota com o Soares. Pedro isola-se cada vez mais na sua ilha mental, com a teimosia de quem não aprendeu a perder, nem a admitir que pode errar.
No meio desta novela, estão nove milhões de pessoas que assistem de camarote a esta batalha naval. Depois do afundanço dos submarinos e dos barcos de canos, vamos ver quanto tempo resta ao porta-aviões.
Ando a ver se consigo perceber onde o governo pretende que este rio de austeridade desague. Não sou versada em economia, mas acho que não é necessário para constatar que este caminho só nos leva para o meio de uma floresta densa e escura, onde os juros são gigantes e a fome é rainha.
Mais de metade dos nossos impostos vão direitinhos para pagar a tão falada dívida pública, quando deviam ser aplicados em hospitais, escolas, cultura, investigação científica. A mão de obra especializada foge do país, empurrada pelo desalento e a falta de futuro. Há mais desempregados e reformados do que população activa.
À minha volta, acumulam-se cantinas sociais, farmácias sociais e feiras sociais. Pessoas como eu e tu, que já comeram garopa e agora comem atum, que já andaram de Audi e agora andam a pé, que deram PSPs aos filhos e agora contam o dinheiro para ver se chega para um happy meal: refeição e brinquedo num só.
Ando curiosa para saber como estaremos daqui por 5 anos. Haverá medicamentos nas farmácias? Andaremos à porrada por uma palete de leite? Teremos ainda dinheiro para comer peixe? Teremos senhas para rações diárias? Transformaremos os jardins em hortas comunitárias? Para quando o regresso dos balneários públicos? Voltaremos a ter as mulheres em casa a cuidar dos filhos? Qual será a taxa de abandono escolar?
Queria ter uma máquina de lavar o tempo. Uma máquina que me permitisse lavar os governos dos últimos 20 anos a 60 graus, centrifugá-los a 800 rotações e pendurá-los no arame pelos tomates, sempre que tomassem uma decisão que não fosse pelo bem da RES PUBLICA.
Andávamos a roubar acima das nossas necessidades. Foi esta a conclusão a que cheguei. A comida é actualmente o segundo bem mais roubado em supermercados. Os bens relativos à higiene lideram há muito tempo. Antigamente, quando eramos todos ricos, com ares de pseudo-pobres, roubavam-se chocolates, bebidas, aparelhos e gilletes. Agora, roubamos para comer.
A comida passou a ser um luxo, sim, mas a higiene bate tudo. O gel de banho, o shampoo, a pasta de dentes, o papel higiénico, têm o IVA taxado a 23%. Portanto, lavar o cabelo, os dentes ou limpar o rabo é um luxo. Já beber coca-cola ou comer danoninhos faz parte do essencial do nosso dia-a-dia.
Comer queijo é mais barato do que comer fiambre. E o raio do porco que é taxado de diferentes maneiras, conforme se preferimos trincar a perna ou o lombo? Senão vejamos: pelo fiambre extra, da perna, pagamos 23%, mas se quisermos paio, que é da parte do lombo, já pagamos 13%.
Eu diria que as nossas possibilidades andam inversalmente proporcionais às nossas necessidades. Mandemos então às urtigas os artigos de higiene! Está feito: poupamos água, pele e um sem número de utensílios que não têm grande serventia. Há lá melhor do que um PH ao natural! Desodorizante? Não, espalhem suminho de limão. Gel de banho? Substituem por sabonete de glicerina. Shampoo? Nope. Gemada na carola. Dentes lavados? Esfreguem com a casca de uma banana. Tem carradas de potássio. Limpar o rabo? Toalhitas de bebé, têm 6% de IVA e são um 3 em 1: limpam, lavam e perfumam. E para quem tem filhos, ainda estimula a cena da partilha. Pêlos? Há uma coisa chamada pinça. Eu vi algumas pessoas a executar essa tarefa enquanto trabalhavam. É como ouvir rádio enquanto se faz o amor.
E pronto! Assim se poupa, assim se está na moda e assim se garante a sustentabilidade de uma casa, de um bairro, de uma freguesia, de um concelho, de um distrito, de um país. Quiçá, de um planeta.
Relvas diz que sai por vontade própria. Eu acredito. Eu também saí do meu emprego por vontade própria: foi pelo meu próprio pé e depois de assinar um contrato que se dizia de mútuo acordo, ou seja, saí porque quis, quando achei que já tinha dado tudo o que tinha para dar. Repito: acredito no Miguel.
Há quem fale em erro de casting. Também acredito. Afinal, a nomeação de um governo não é mais do que buscar e rebuscar nas agendas pessoais os contactos dos amigos e afilhados, compadres e compadrios. Junta-se uma pitada de marketing pessoal, reescrevem-se formações académicas, juntam-se mais umas notas saídas ao fim-de-semana, uns créditos, compram-se espaços de opinião em jornais afamados e sai um governo quentinho, pronto a servir ao Zé, que tomam por brando, distraído e a dar para o estúpido.
Este Miguel fez um curso sem meter os pés na universidade, com base num regime de equivalências inédito em Portugal, sem fazer um único exame escrito, apenas uma oral que debateu o seu próprio pensamento, com falta de comprovativos de notas e com uma admissão aceite fora do prazo.
O Zé não tem canudo. Mas tem a dignidade de dizer que aquilo que aprendeu foi mesmo resultado da frequência escolar e das chapadas da vida. E agora o Miguel sai pelo próprio pé, o mesmo que está ferido pelo tiro que levou. E não se tratou só um erro de casting. Relvas é um insulto diário e permanente à inteligência do Zé e revela o estado em que se encontra a política em Portugal: no corredor para a morte.
Como não me parece que alguém se preocupe com os insultos à inteligência do Zé, gostava de aproveitar para informar que vou tentar obter equivalências com base nos textos deste blog. Não me importo de estar uma hora a debater o meu próprio pensamento. É uma cena narcisista, mas eu aguento se isso me der um mestrado em História do Pensamento Evolutivo das ditas Balzaquianas no Século XXI. Também não me importo que as notas saiam ao fim-de-semana, ou não saiam de todo, desde que o diploma seja assinado ou rubricado por alguém com um QI médio de 100, com desvio-padrão de 20.
Vítor Gaspar é desesperante. É desesperadamente calmo, desesperadamente monocórdico, desesperadamente incompleto, desesperadamente negativo, desesperadamente vazio. Se o povo está espancado, desiludido e triste, pior fica depois de o ouvir. Ou tentar ouvir. Vítor Gaspar discursa pausadamente, cansado e olheirento, como se estivesse em fase terminal. Mostra-se solidário com um país que está em lista de espera para uma cirurgia, uma transfusão e um transplante. Tudo em simultâneo, senão fica-se por aqui.
Insisto em tentar ouvi-lo e percebê-lo, mas, até agora, não consegui aguentar mais de uns segundos. Fala sobre medidas de austeridade, visitas e memorandos da Troika. Mas podia muito bem estar a dissertar sobre a plantação de bergamotas e purshas em Portugal, que ninguém ia dar pela diferença. Para quem não leu a Visão, estes são dois citrinos desconhecidos no nosso país. Quero arriscar dizendo que um discurso sobre bergamotas teria mais sucesso e despertaria mais atenções. Gaspar, desafio-te a coragem: atreve-te a dissertar sobre citrinos e vê como os portugueses te dão algum do seu precioso tempo.