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coitadinhodocrocodilo


Segunda-feira, 03.02.14

A missão

Ainda hoje, escrevia a uma amiga que na vida não vencem os mais inteligentes ou ambiciosos, mas os que melhor se adaptam às situações; Que, às vezes, temos que aceitar a vida como ela é, sem medo do rótulo de “resignação”. Aceitar a vida é dar valor ao que se tem. Não quer dizer que não se lute pelo que se quer, mas as armas vão mudando e a estratégia adapta-se.

Felizmente, contam-se pelos dedos de uma mão os dias em que parei para chorar. Valeram-me os minutos de escrita, valeu-me a família, valeram-me os amigos e todas as pessoas que experienciaram o desemprego e me deram força, valeu-me o voluntariado. O truque é esse: rodearmo-nos de gente querida e alegre, que não nos julga pelo ganhamos ou onde trabalhamos, mas pelo sorriso e missão.

A minha missão era trabalhar numa ONG, numa Instituição de Solidariedade Social, mudar a vida de alguém. Não sabia que para isso acontecer, teria primeiro que mudar a minha vida. Descobri como é trabalhar com sorrisos em vez de gráficos de produtividade, lidei com a alegria e a generosidade em vez da ambição por promoções. Descobri talentos escondidos na arca do meu ser. E um ano depois, num dos poucos dias em que parei para chorar, recebi a notícia de que o voluntariado pode transformar-se em emprego.

Às vezes, temos de aceitar a vida como ela é, com medos, recuos e avanços, mas sempre com alegria. Ser feliz é o nosso objectivo. Como lá chegamos, depende da nossa experiência de vida, da nossa vontade, de quem nos rodeia e da nossa missão.

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por coitadinhodocrocodilo às 19:01

Sexta-feira, 28.06.13

Uma mão amiga

Estamos pobres. Mas, como diz o vice-presidente da Associação de Integridade e Transparência, chegámos aqui por culpa da corrupção e não pelo excesso de crédito. Os apoios sociais são cada vez mais necessários. Mas ajudar – apesar de muito gratificante - nem sempre é fácil. Desde o início do ano, eu e uma amiga enveredámos pelo mundo das ONGs. O Estado paga-nos e nós achamos que não é só para ficar em casa a limpar o pó.

Estes meses foram importantes para perceber que nem tudo é o que parece. Em sítio algum, as coisas são exactamente como parecem. Não generalizando, felizmente, concluímos que nem as instituições são tão altruístas como é sua missão, nem toda a gente necessitada é tão grata e empenhada como devia. Nem as instituições são tão abertas e isentas, nem todas as pessoas carenciadas são tão responsáveis e cumpridoras das regras do serviço social.

Como em todos os mundos, este também tem os seus podres. Em todo o caso, vale sempre a pena tentar ajudar. Somos todos humanos: erramos, sonhamos, choramos, desistimos, para logo depois voltar a lutar. Às vezes, basta saber que há alguém que pensa em nós, que deixa de beber cafés para fazer um donativo, que deixa de comprar uma mala nova, para oferecer paletes de leite, para continuarmos com força para viver, em vez de sobreviver. Ajudar alguém é ajudar-nos a nós também. Hoje tu, amanhã eu. O lema é este e é tão verdadeiro como assustador.

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por coitadinhodocrocodilo às 22:56

Quinta-feira, 07.03.13

O vendedor de parafusos

Tem sido uma semana negra. O miúdo voltou a não dormir and here we go again a atacar as gorduras hidrogenadas. Tem sido uma semana de reflexão e choro e baba e ranho. Nada do que sinto ou faço ou digo parece fazer grande sentido. Começando pelo voluntariado. Trabalhar ao lado de pessoas que fazem o mesmo mas ganham para isso é quase imoral, é um pontapé no nosso profissionalismo, uma bofetada na nossa inteligência.

Tudo o que gosto realmente de fazer se reduz a ofertas de voluntariado. Esta semana percebi que até a senhora que me recebe nas apresentações quinzenais é voluntária. Parece que ninguém quer pagar pelo nosso trabalho. Digo isto com mágoa. Eu, que sou grande defensora do voluntariado e que o pratiquei muito antes de estar na moda.

Agora todos dizem que é óptimo para ganhar curriculum. Ninguém quer realmente saber das pessoas que conhecemos e da vida de quem ajudamos. O que importa é ganhar experiência, não estar parado, ser pró-activo. Ser ou parecer, que, neste contexto, vai dar ao mesmo.

Num desses dias de voluntária, conheci um senhor desempregado e à beira do colapso financeiro. Dizia-me que andava à procura de trabalho como motorista, mas aquilo que realmente queria fazer era vender parafusos. Ceús! Nunca conheci ninguém que quisesse ser vendedor de parafusos. Este homem é um achado. Passado o espanto, digo eu, natural, pensei melhor sobre o assunto. Se isto é falta de ambição, de horizontes, de instrução, não sei. Mas cada um recorta os sonhos à sua medida. E se ser vendedor de parafusos nos faz vibrar, então vamos lutar para vender parafusos! Vamos alargar horizontes para começar a vender brocas, fazer cursos de iniciação ao berbequim. Quando dermos por ela, estamos especialistas na matéria e… felizes, que é isso que realmente interessa.

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por coitadinhodocrocodilo às 16:29

Quinta-feira, 14.02.13

Voluntariado

Primeiro dia de voluntariado. Vou lá para ajudar pessoas endividadas, que por falta de meios, conhecimento ou instrução, não sabem o que fazer, nem a quem se dirigir. A maioria estão desempregados.

Em 10 minutos ganhei ritmo: meti mãos à obra e neurónios em modo adrenalina, os poucos que sobrevivem às noitadas. Demos à língua, dissemos mal do governo, dos senhorios, dos empregadores, pus teclas ao caminho, espanquei o teclado e produzi uma carta para os credores. Animei o senhor, liguei para o centro de emprego da zona, marquei-lhe uma reunião, voltei a dar-lhe força e a insurgir-me contra a falta de boas oportunidades de emprego, prometi que tudo pode mudar, que tudo VAI mudar, falei-lhe no fechar da porta e abrir da janela. Voltei a animá-lo... como se estivesse a falar comigo mesma.

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por coitadinhodocrocodilo às 00:10

Segunda-feira, 04.02.13

Amiga dos amigos dos amigos

No big deal. Realmente foi isso que aconteceu hoje. A entrevista – na qual não depositava grandes esperanças – não me desiludiu de todo. Só me receberam porque vinha referenciada por alguém de dentro da instituição. Querem o meu trabalho, mas não pagam por ele. A isto chama-se voluntariado. E é isso mesmo que eu vou ser:  tão somente uma voluntária, uma benemérita, que coloca o seu tempo e saber ao serviço do cidadão. Isto foi apenas o começo de uma série de fechar de portas, deixando apenas uma fresta para espreitarmos outra oportunidade.

Vou encarar como um pequeno trampolim para uma cunha. Agora já não tem este nome. Como tudo na nossa vida profissional, também a “cunha” passou a ter um nome técnico em inglês: networking. E dizem alguns: “Ah e tal, não é a mesma coisa!” A cunha designa-se por ser um conhecimento nosso que nos coloca em determinada posição/cargo/emprego. Networking é de facto mais complexo: é o conjunto de todas as nossas cunhas e as dos nossos amigos e as dos amigos dos amigos e pô-las a mexer, de maneira a conseguirmos uma determinada posição/cargo/emprego. Ah e tal, afinal é a mesma coisa.

Então, espero eu com este voluntariado - e porque sou um ser muito sociável e pelo-me por uma boa cunha - começar a ter mais conhecimentos e a fazer muitos amigos, os amigos dos amigos, de modo a conseguir que paguem pelo meu trabalho. Eu adoro voluntariado, mas a partir do momento em quando damos todo o nosso trabalho, de graça, ninguém mais vai querer pagar por ele.

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por coitadinhodocrocodilo às 16:06


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